O que está acontecendo com nossos vereadores? Talvez nada de novo, apenas mais um capítulo da velha novela política rondoniense, onde os personagens mudam, mas o roteiro é o mesmo: rachadinhas, operações com nomes cinematográficos e a tradicional choradeira de que tudo “é perseguição política”.
A “rachadinha”, prática que virou quase um patrimônio imaterial da política brasileira, acaba de ganhar mais um episódio local. A operação Face Oculta, deflagrada em Porto Velho, teve como alvo o vereador Thiago Tezzari, que, como era de se esperar, reagiu dizendo ser “vítima de vingança de um ex-aliado” que o denunciou ao Ministério Público.
Até aí, nenhuma novidade. Mas o próprio vereador, num rompante de sinceridade ou ironia mal calibrada, afirmou que seu maior medo é o delegado liberar a senha do seu celular para a esposa, teoricamente confessando ser infiel no casamento. Curioso: em uma operação anterior, Tezzari fez exatamente o mesmo comentário.
Se for alvo de uma terceira, vai merecer o “pedido de música no Fantástico”.
Enquanto isso, nos bastidores da Câmara, o barulho é outro. Alguns sites apressadinhos já falam em “convocação do suplente” para assumir o mandato. Como assim? Que viagem é essa?
Tezzari foi afastado cautelarmente por 30 dias — não foi cassado, não foi preso, não foi julgado, nem condenado com trânsito em julgado. Afastamento temporário não é vacância. Mas, como sempre, a pressa por manchete fala mais alto que a leitura da lei.
Vale lembrar da “Operação Apocalipse”, em julho de 2013, quando 39 pessoas foram presas, incluindo três vereadores de Porto Velho, que ficaram quase três meses encarcerados e nem assim perderam seus mandatos.
Aliás, um dos alvos daquela operação, condenado a quase 20 anos, fugitivo desde então foi preso semana passada nos Estados Unidos, e deve ser extraditado para Rondônia. O tempo passa, os personagens mudam, mas o roteiro continua o mesmo.
Portanto, é cedo demais para o suplente de Tezzari começar a passar o paletó. Mesmo que o caso vá parar nas mãos de Xandão, o afastamento definitivo do mandato só ocorreria se a própria Câmara decidisse abrir um processo interno — o que, convenhamos, é improvável.
Porque, no fundo, todos ali sabem: hoje é Tezzari, amanhã pode ser qualquer um. E nesse jogo silencioso de autoproteção, o corporativismo continua sendo o maior partido político do país.