De tempos em tempos tenho acesso a uma notícia mais absurda que a outra sobre violência contra a mulher. Dessa vez, foi à notícia da vereadora do Amazonas que no plenário se afirmou ser “a favor da violência contra a mulher“. Isso mesmo que você leu. Uma mulher, representante do povo, formadora de opinião afirmando que “tem mulher que merece apanhar“, alegando ter visto situações em que mulheres se machucaram sozinhas para acusar homens de agressão, tudo isso em alto e bom som sem medir o peso dessas palavras na vida de outras mulheres.
Pergunto-me, o que uma vereadora ganha com esse discurso de ódio, que pode gerar dano moral coletivo a outras mulheres? A declaração reforça uma realidade machista, sexista e misógina que vem sendo combatida há anos, mas que ainda é proferida por muitos.
O conjunto de crenças de que defende a superioridade masculina e justifica a subordinação da mulher é o mesmo que coloca mulheres contra as outras e fazem discursos como este serem vociferados por elas.
Talvez para serem aceitas em ambientes predominantemente dominados por homens, elas seguem reforçando esse comportamento que é resultado do machismo estrutural e que dita que mulheres não são confiáveis, elas mentem, manipulam e exageram.
O problema é que esse tipo de reação causa desconfianças em casos de violência sexual, quando não tem testemunhas, entre a palavra da mulher e do homem, sempre vai prevalecer a do homem. E por causa dessa conduta seguimos em uma luta sem fim, onde penamos pela nossa segurança enquanto o machismo nos atinge.
Violência política é crime. A fala infeliz da vereadora não se enquadra em liberdade de expressão e nem deve estar protegida pela imunidade parlamentar. O MPAM vai investigar a vereadora que defendeu a violência. E orientou a presidência da Casa e aos vereadores que se abstenham de declarações que incentivam violência sob pena de responsabilização judicial.
Não podemos mais tolerar essa condição de subordinação que resulta muitas vezes em violência e feminicídio. Temos que entender de uma vez, que declarações discriminatórias incentivam a violência e atrapalham as vítimas a denunciarem seus agressores.
Dias depois a vereadora pediu desculpas, disse que foi infeliz em sua fala, vai refletir sobre o ocorrido e se comprometeu a agir com respeito em seus próximos discursos. Entendo que todos nós estamos sujeitos ao erro, sobre assuntos que fomos ensinados desde crianças a não questionar. Mas não podemos esquecer sobre as consequências de nossas falas e ações sobre o tema que é de saúde pública e vem matando milhares de mulheres diariamente.
Que esse caso sirva de exemplo para repensarmos nos discursos de senso comum, baseados em crenças aceitas como verdades sem questionamento crítico que mais atrapalham nossas vidas do que nos protegem.