O fomepizol, antídoto crucial para tratar a intoxicação por metanol, deve chegar ao Brasil ainda nesta semana. A farmacêutica japonesa Daiichi Sankyo Brasil, por meio de sua diretora de Assuntos Médicos, Fabiana Sanches, confirmou a importação emergencial de 2.500 ampolas dos Estados Unidos, além de uma doação de mais cem ampolas pela empresa.
A negociação para agilizar o envio foi conduzida pelo Ministério da Saúde, Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e Anvisa. O envio, no entanto, ainda depende de trâmites burocráticos.
Uso Restrito e Exclusivamente Hospitalar
Fabiana Sanches esclareceu que o fomepizol não será vendido em farmácias nem estará disponível para compra pela população.
“É um medicamento de uso estritamente hospitalar. Ele deve ser administrado com supervisão médica dentro dos hospitais, e serão apenas alguns hospitais de referência que terão essa medicação disponível”, afirmou Sanches, ressaltando que essa é uma restrição global para o medicamento injetável.
Como o Antídoto Funciona
O metanol é um álcool industrial altamente perigoso que, ao ser ingerido, é transformado no fígado em substâncias tóxicas como formaldeído e ácido fórmico. Esses metabólitos são os responsáveis por causar cegueira, danos neurológicos, insuficiência de órgãos e morte.
O fomepizol age bloqueando a enzima álcool desidrogenase, que realiza essa conversão tóxica. Com isso, o metanol permanece intacto na circulação e pode ser eliminado pelos rins. O antídoto é considerado mais eficaz do que o etanol farmacêutico, alternativa temporária usada atualmente nos hospitais.
Protocolo de Tratamento e Alerta de Intoxicação
O tratamento deve ser iniciado imediatamente após a suspeita clínica de intoxicação, sem a necessidade de aguardar a confirmação laboratorial. O protocolo prevê uma dose de ataque, seguida por doses menores a cada 12 horas. A melhora geralmente é observada em até 48 horas.
Em caso de suspeita de ingestão de bebida adulterada, a orientação é procurar atendimento médico imediato e informar a origem da bebida. A automedicação ou a ingestão de outro tipo de álcool devem ser evitadas, pois podem piorar o quadro. Os sintomas podem demorar a aparecer, surgindo em até 48 horas.
Casos de Intoxicação e Linhas de Investigação
O Ministério da Saúde confirmou 17 casos de intoxicação por metanol no país, com 200 notificações ainda sob investigação. O estado de São Paulo concentra a maioria dos registros, com 15 casos confirmados e 164 em análise.
A Polícia de São Paulo trabalha com duas linhas de investigação para as bebidas adulteradas:
- O metanol teria sido usado para higienização de garrafas reaproveitadas.
- O metanol teria sido usado para aumentar o volume na produção de bebidas falsificadas.
A perícia confirmou a presença da substância em bebidas de duas distribuidoras no estado. Os casos de intoxicação envolvem principalmente bebidas destiladas (como vodca e gin), que são mais vulneráveis à adulteração.
Atenção: O metanol não altera cor, odor ou sabor e só pode ser detectado em laboratório. Recomenda-se desconfiar de preços muito baixos, comprar em locais conhecidos e verificar selos fiscais e lacres.