Pesquisadores de universidades públicas brasileiras estão desenvolvendo diferentes métodos para detecção de metanol em bebidas alcoólicas, ampliando as possibilidades de diagnóstico da substância, que não tem cheiro nem sabor. A adulteração só pode ser confirmada por exames laboratoriais. Segundo o Ministério da Saúde, até esta sexta-feira (4), há 113 notificações de contaminação por metanol – sendo 11 confirmadas e 102 em investigação.
UFPR oferece análise gratuita
Um dos destaques vem da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que, por meio do Laboratório Multiusuário de Ressonância Magnética Nuclear, abriu espaço para análise gratuita de bebidas alcoólicas suspeitas. O atendimento é feito com agendamento prévio.
Segundo o professor de química Kahlil Salome, vice-coordenador do laboratório, o equipamento usado funciona de forma semelhante aos exames de ressonância médica. Em cerca de cinco minutos, a análise é concluída, utilizando apenas 0,5 ml da bebida.
“A gente consegue analisar bem rapidinho. Mesmo bebidas com corantes ou frutas podem ser testadas com precisão”, explica Salome.
O exame identifica a presença de metanol em níveis prejudiciais, como 10 microlitros em 100 ml, em bebidas como cachaça, vodka e tequila.
Unesp patenteia método de identificação
Na Unesp, em Araraquara, uma equipe do Instituto de Química desenvolveu, em 2022, um método que também permite a identificação do metanol. A técnica usa um sal e um ácido, resultando em uma mudança de cor na solução, caso haja contaminação. O procedimento dura cerca de 15 minutos e foi patenteado pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI).
Startup da UnB produz kits para empresas
Outro projeto teve início na Universidade de Brasília (UnB), em 2013. O químico Arilson Onésio Ferreira, durante seu mestrado, desenvolveu um exame por reagentes para identificar metanol. A iniciativa resultou na criação da startup Macofren, que hoje fornece kits de teste para empresas e órgãos públicos.
De acordo com o pesquisador, o teste custa cerca de R$ 25, e os kits completos saem por R$ 50. A demanda aumentou com os recentes casos de contaminação, e há cerca de 200 empresas na fila de espera — incluindo organizadores de casamentos e eventos corporativos.
“O que está acontecendo agora no Brasil já ocorreu na Europa”, alerta o químico, referindo-se ao documentário Metanol, o líquido da morte.
O risco é alto: 30 ml de metanol podem ser letais, e a diversidade de ingredientes nas bebidas torna os testes mais desafiadores. “Nunca pode haver um falso negativo”, afirma Ferreira.