Um estudo da Oxfam Brasil, intitulado Transição Injusta: Resgatando o Futuro Energético do Colonialismo Climático, demonstra que os modelos atuais de consumo de energia são profundamente desiguais. A pesquisa alerta que essa disparidade tende a se perpetuar no processo de transição energética global, reforçando um “padrão colonial”.
A diretora-executiva da Oxfam Brasil, Viviana Santiago, criticou o modelo atual. “Essa transição, ao invés de coletar as lições aprendidas durante o período de utilização da matriz de combustíveis fósseis, na verdade, ela reproduz tudo aquilo que provocou desigualdade, pobreza energética e, na maneira como está sendo feita, repete um padrão colonial”, afirmou.
Excesso de consumo no Norte Global
A pesquisa analisou dados globais dos últimos 60 anos e concluiu que o Norte Global, composto pelos países mais ricos, consumiu um excedente de 3.300 petawatts-hora (PWh) acima do necessário para suprir as necessidades energéticas básicas modernas.
Este excedente seria suficiente para atender às necessidades básicas modernas de todo o planeta, incluindo a população que ainda não tem acesso à energia, por um período de 20 anos. No Brasil, por exemplo, o Censo 2022 do IBGE indicou que cerca de 400 mil pessoas ainda vivem sem acesso à eletricidade.
Investimentos e o Sul Global
O estudo relaciona a transição energética à distribuição de recursos e investimentos. Embora os países do Sul Global detenham 70% das reservas de minerais críticos necessários para a transição energética, a maior parte do capital está concentrada:
Norte Global: 46% dos investimentos em energia renovável.
China: 29% dos investimentos.
Em contraste, a América Latina recebeu apenas 3% dos investimentos em 2024. O Sudeste Asiático, o Oriente Médio e a África receberam apenas 2% cada. A diretora Viviana Santiago reforça que a transição “vai priorizar apenas as pessoas mais ricas, não vai incidir diretamente na pobreza energética, e vai definitivamente deixar uma enorme zona de sacrifício”.
Justiça energética e comunidades tradicionais
O relatório também denuncia que a busca por minerais críticos ameaça extensas áreas de comunidades tradicionais. As terras indígenas ameaçadas por atividades industriais relacionadas à transição extrativa cobrem 22,7 milhões de km² – uma área maior que o Brasil, os Estados Unidos e a Índia somados.
Para reverter esse quadro, os pesquisadores da Oxfam Brasil defendem o princípio das responsabilidades compartilhadas, mas diferenciadas. É crucial que os países que historicamente consumiram mais combustíveis fósseis e contribuíram mais para as emissões de gases de efeito estufa sejam responsabilizados pela conservação dos recursos.
O relatório apresenta recomendações globais para uma justiça energética, incluindo:
Reformas no sistema financeiro global.
Estabelecimento de uma governança energética justa.
Garantia de benefícios energéticos e salvaguarda das comunidades tradicionais.
Fortalecimento do multilateralismo com justiça internacional.