A floresta brasiviana do rio Mamu carrega em si um emaranhado de mistérios que são divinamente guardados no imaginário austero e estetizantes de seus entes. Neste exímio cenário da natureza encantadora há uma fonte inesgotável de saberes espirituais e mitológicos que nos fascina com seus devaneios poetizantes.
É na concatenação fascinante da noite com o imaculado remanso do rio que brotam os desejos do homem ribeirinho. No entanto, a vontade instigante do ser é vigilantemente controlada pelo poder do velho da canoa. Esta generosa figura mitológica brasiviana atua no exuberante silêncio da noite, e dotado de uma alma extremamente benévola, percorre o rio Mamu numa velha canoa feita de Itaúba (Mezilaurus itauba).
Enquanto rema, ele viaja nos devaneios do homem ribeirinho, ingressa misteriosamente nos sonhos de cada um, analisa os desejos não concretizados durante o dia, atenta para os desejos pretendidos do dia vindouro e em seguida prioriza as vontades mais urgentes e necessárias à serem atendidas.
Com uma visão imaculadamente cosmopolita, o velho da canoa é considerado a alma da floresta. Em seu estado de profunda pureza, ele é o ensaio virtuoso da contemplação divinizada da natureza, e é durante seus trajetos noturnos que ele adormece no silêncio sublime da solidão, buscando no espaço e tempo sua majestosa imensidão.
Para Bachelard a imensidão está em nós. Está ligada a uma espécie de expansão de ser que a vida refreia, que a prudência detém, mas que retorna na solidão. O autor revela ainda que:
“A imensidão é o movimento do homem imóvel. A imensidão é uma das características dinâmicas do devaneio tranquilo”.