Tomado pela repulsa e desditoso com o acontecido, o brasiviano decide retornar ao mesmo varadouro da noite anterior, na ânsia de encontrar –se com o gato que roubara sua carne, e ainda na tentativa de encontrar novas caças. Desta feita o destino foi outro, e o brasiviano teve que se submeter à indignação do caboclinho da mata.
No encontro com o fabuloso mundo do imaginário, o seringueiro foi impiedosamente açoitado de cipó. O barulho das cipoadas misturava-se aos gritos, mas o caboclinho não parava de surrá-lo. Esmaecido pela surra de varas e cipós, ele lembrou-se das antigas lições que recebera ainda menino de um índio Pakuara e segurou em um punhado de folha verde e guardou na mão, ao tempo em que colocou uma pequena folha em baixo da sua língua. De repente o silêncio voltou a reinar e uma voz forte ecoou na copa dos vegetais, dizendo: – Foi o que te salvou!
O caboclinho partiu deixando a lição, enquanto o brasiviano rastejou –se de dor até o aconchego de seu tapiri. Em casa, a esposa e filhos ajudaram a socorrê-lo, mas ele ainda gemia de dor. O brasiviano pediu que passasse banha de cobra de sucuri com folhas de capeba[1] (piperaceae) para colocar nas feridas que tinham ficado em suas costas.
Ao tirarem sua camisa, a família observou que não havia nenhuma marca das cipoadas em suas costas. Durante a noite ele sofreu com uma forte febre, que somente fora controlada com um xarope de mel de abelha misturado com gengibre (Zingiber offiicinale) e unha –de- gato (Uncaria tomentosa).
A partir daquele dia o seringueiro aprendera a cada vez mais relacionar-se com mais respeito e gratidão com os deuses mitológicos da floresta brasiviana.
[1] Planta medicinal de folhas grandes. Serve para desinflamar e desinchar as pernas. Coloca-se sobre feridas com ataduras. (Ranzi, 2017, p. 31).