Na mitologia do imaginário florestal brasiviano mora o caboclinho da mata. A identidade do caboclinho é brasiviana. Ele é o protetor da mata e dos animais, e percorre a floresta dia e noite sem descansar. Além dos animais, os homens que ali habitam e vivem em harmonia com a natureza, também recebem a sua proteção. Para ele, todos são filhos da floresta, e desde que não haja escárnio ou aviltamento nesta relação, o caboclinho da mata não utiliza sua força e poder para aplicar seus atos punitivos.
O protetor da floresta não faz uso de sarcasmo para com seus semelhantes, não espolia o patrimônio florestal, não admite uma mata tenebrosa, nem é malévolo com quem protege a natureza. A floresta aprazível oferece de tudo para que seus moradores possam sobreviver com dignidade, e com uma notável austeridade coletiva, eles podem alimentar-se de folhas, raízes, frutos e de uma diversificada variedade de carnes.
Matar para saciar a fome é permitido, desde que não haja soberba ou insolência na colossal luta pela volúpia da vida. Os brasivianos não o denominam de curupira como em outras regiões da Amazônia, denominam apenas de caboclinho da mata. Alguns também o denominam de pai do mato. Para o brasiviano José Nogueira, o caboclinho da mata é muito valente, observemos o que ele diz:
“Para começar ele não gosta de cachorro, porque os cachorros correm atrás dos animais no mato. Ele mete a peia e sem dó, bate mesmo, com força. Só que ninguém consegue ver o caboclinho. Ele é muito misterioso. Naquele tempo se algum seringueiro esbanjasse carne de caça, ele dava uma surra de cipó. Dava até febre e a pessoa tinha que tomar remédio. A costa ficava toda doida, mas não ficava nem uma marca”.
O caboclinho da mata é considerado o protetor dos animais, e, portanto, não perdoa aquele que não souber fazer bom uso da sua caça. Para ele, só de deve matar o necessário para a alimentação da família, e caso, matem mais do que o necessário, serão severamente castigados com as suas doloridas cipoadas. Ao homem amazônida cabe irradiar a floresta com seus saberes e fazeres, cabe luzir seu modo de vida, cabe contemplar o prodigioso, assim como cabe propiciar os valores de sua existência, combatendo o nefário mundo da sociedade envolvente.