O número de pessoas trabalhando por meio de aplicativos de transporte e entrega teve um crescimento extraordinário no Brasil. De acordo com o Banco Central (BC), o total de trabalhadores em plataformas digitais saltou 170% entre 2015 e 2025, passando de cerca de 770 mil para 2,1 milhões de ocupados.
A análise, presente no Relatório de Política Monetária do terceiro trimestre de 2025, conclui que esse fenômeno de crescimento dos aplicativos representou uma mudança estrutural no mercado de trabalho. O BC afirma que isso resultou em elevação do nível de ocupação, aumento da taxa de participação e uma redução da taxa de desocupação.
Impacto no Desemprego
O BC fez exercícios para estimar o impacto das plataformas digitais. A simulação sugere que, se os aplicativos não existissem, a taxa de desemprego aumentaria entre 0,6 e 1,2 ponto percentual.
Considerando a taxa atual de desemprego em 4,3%, o valor poderia subir para até 5,5% sem a existência dos aplicativos. O estudo sugere que a maioria dos trabalhadores em aplicativos estava, antes, fora do mercado de trabalho, e não tirou ocupações de outras áreas.
Apesar do crescimento, a participação desses trabalhadores na população ocupada é relativamente pequena, passando de 0,8% em 2015 para 2,1% em 2025.
O Rosto da Precarização
Apesar do impacto positivo nos indicadores de ocupação, o trabalho por meio de plataformas digitais é associado à precarização do trabalho.
Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) indica que o trabalho mediado por aplicativos resultou em:
Jornadas de trabalho mais longas: A proporção de motoristas com jornadas entre 49 e 60 horas semanais subiu de 21,8% em 2012 para 27,3% em 2022.
Queda da renda média: Entre 2012 e 2015, a renda média dos motoristas autônomos era de cerca de R$ 3,1 mil. Em 2022, com o crescimento dos aplicativos, a renda média caiu para menos de R$ 2,4 mil.
Menor contribuição previdenciária: O percentual de motoristas de passageiros que contribuía com a previdência caiu de 47,8% em 2015 para apenas 24,8% em 2022.
Um relatório da Fairwork Brasil corrobora essa visão, mostrando que nenhum dos principais aplicativos conseguiu evidenciar o cumprimento de padrões mínimos de trabalho decente, como oferecer uma remuneração justa aos trabalhadores.