O presidente da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), José Eduardo Martinez, defendeu que, além do programa “Agora tem Especialistas”, o investimento na formação de médicos generalistas é crucial para agilizar o diagnóstico e tratamento, evitando o sofrimento de longas jornadas.
A longa jornada do paciente até o diagnóstico e tratamento, especialmente para doenças reumáticas, é um dos maiores desafios da saúde pública no Brasil. A afirmação é do presidente da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), José Eduardo Martinez, que defende a capacitação dos médicos generalistas para encurtar o tempo de espera.
O sofrimento causado pela demora foi exemplificado pela artesã Regiane Araújo Pacheco, de Ipupiara (BA), que só recebeu o diagnóstico de artrite reumatoide infantil aos 15 anos, após anos de dores intensas e consultas com clínicos gerais sem sucesso. Regiane enfrentou longas distâncias e levou anos para, finalmente, iniciar o tratamento para lúpus em 2008.
O Programa “Agora tem Especialistas”
Para o presidente da SBR, embora o programa “Agora tem Especialistas” do Governo Federal seja importante, o foco deve ir além do aumento no número de especialistas. O programa, criado pelo Ministério da Saúde e aprovado pelo Congresso Nacional na quarta-feira (24), visa reduzir o tempo de espera no Sistema Único de Saúde (SUS) para consultas, exames e cirurgias.
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, classificou a aprovação da Medida Provisória como “histórica”. O programa busca enfrentar o longo tempo de espera da população por atendimento especializado, ampliando os serviços de média e alta complexidade em seis áreas prioritárias: oncologia, ortopedia, ginecologia, cardiologia, oftalmologia e otorrinolaringologia.
Padilha destacou que o programa permitirá ao governo federal estar mais próximo dos estados e municípios, além de levar médicos e especialistas para regiões onde há escassez desses profissionais.
Melhoria na Atenção Básica é a Chave
Martinez defende que o investimento na Atenção Básica é fundamental para aliviar a demanda sobre os especialistas e encurtar a jornada do paciente. Ele citou a situação de pacientes que viajam longas distâncias, gastam horas e precisam esperar meses ou anos por um retorno em unidades terciárias.
O reumatologista Valderilio Azevedo, membro da SBR, concorda que um generalista bem formado poderia identificar e tratar precocemente muitas doenças, diminuindo a necessidade de encaminhamento. “Nem todo mundo precisa ir para um especialista. Se tivermos um generalista bem formado, identificando e tratando adequadamente e também encaminhando [o paciente] com qualidade, a gente diminuiria um pouco da jornada do paciente”, disse Azevedo.
A diretora científica da SBR, Licia Maria Henrique da Mota, apontou que o maior problema está na qualidade do referenciamento (encaminhamento para o especialista) e, principalmente, no contrarreferenciamento (retorno do paciente para o acompanhamento na atenção básica).
O Ministério da Saúde informou que tem ampliado consistentemente os investimentos na Atenção Primária à Saúde (APS), a principal porta de entrada do SUS. O orçamento da APS passou de R$ 35,3 bilhões em 2022 para R$ 54,1 bilhões em 2024, um aumento de mais de 50%. A pasta afirma que a APS, que hoje cobre 70% da população, integra protocolos de qualificação e ações para reduzir o tempo de espera e encurtar a jornada do paciente.