A rotina dos caminhoneiros no Brasil é marcada por longas jornadas, pressão por prazos e solidão, fatores que impactam diretamente sua saúde mental. O caminhoneiro Emerson André, que trabalha há 16 anos na estrada, lamenta que muitos colegas estão adoecendo por causa do estresse e da falta de convivência com a família. O procurador do Trabalho, Paulo Douglas de Moraes, considera que a saúde mental é um problema estrutural no setor de transporte rodoviário, gerando um “apagão de motorista”, já que a profissão não atrai os mais jovens.
Uma pesquisa do Ministério Público do Trabalho (MPT) revelou que a falta de definição na carga horária é uma das principais causas da insegurança dos profissionais. O estudo indica que 56% dos caminhoneiros trabalham entre nove e 16 horas por dia, com 25% deles ultrapassando as 13 horas diárias. Essa sobrejornada é, muitas vezes, ligada ao uso de drogas e “rebites” para combater o sono, o que aumenta os riscos de acidentes nas estradas.
A falta de pontos de parada adequados e seguros também contribui para o problema, conforme aponta a Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA). O psiquiatra Alcides Trentin Junior alerta que transtornos como ansiedade e depressão, comuns na categoria, aumentam significativamente os riscos de acidentes.
O cenário exige mais ações do Estado e das empresas. A neurocientista Barbara Lippi destaca que uma nova atualização na Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1) obriga as empresas a identificar e combater os riscos psicossociais que os trabalhadores enfrentam, garantindo um ambiente psicologicamente saudável. A medida visa a reduzir a sobrecarga e promover mais segurança nas estradas, beneficiando não só os caminhoneiros mas toda a sociedade. A expectativa é que a atenção à saúde mental dos motoristas ajude a reduzir as altas taxas de acidentes fatais no setor.