Nos anos 70 Rondônia vivia um pleno faroeste digno de filme. Muita poeira, gente, muita gente, um formigueiro humano em vários pontos, em especial Ji-Paraná, o centro geologístico de um território que buscava sua estrela na constelação nacional.
A imensidão da floresta era uma barreira quase intransponível, pois não existia nem picada, mas patrulhas de tratores do INCRA e do Exército abriam as linhas como hoje se abrem ruas nas cidades, para dotar de mínima infraestrutura de acesso aos lotes de ocupação fundiária, então pedaços de floresta fechada.
Em 1972 o INCRA criou o Projeto Integrado de Colonização (PIC) Ji-Paraná para acolher milhares de migrantes vindos do sul e sudeste do país em busca de terras novas e a possibilidade de um futuro melhor, para ocuparem os quase 5 mil lotes de 100 hectares desse projeto.
Um ano depois, exatamente em 27 de abril de 1973, José Vidal Hilgert, um jovem gaúcho de ascendência alemã com apenas 19 anos, vindo da então Vila de Butiá no Rio Grande do Sul, hoje município de São Pedro do Butiá, desembarcava em Ji-Paraná como um guri virado homem para enfrentar os desafios do oeste brasileiro.
Exímio mecânico de motosserras, Vidal logo encontrou um filão de trabalho para iniciar sua jornada profissional no Território de Rondônia, onde o equipamento era considerado de sobrevivência: sem motosserra a floresta era um muro verde intransponível.
Vidal, com a força do seu sangue, sua inteligência, sua habilidade para a mecânica, sagacidade e enorme capacidade de trabalho, logo identificou oportunidades para crescer, tornando-se um agente autorizado Stihl, então a marca de motosserra dominante e que exigia reparos e consertos em garantia.
Exatamente quatro anos depois de sua chegada, em 27 de abril de 1977, Vidal Hilgert criou a Implemaq Implementos e Máquinas Ltda, um empreendimento com notável importância para o surgimento e fortalecimento do agronegócio em Rondônia, numa notável demonstração da sua capacidade empreendedora.
Para além da Implemaq, Vidal foi o líder empresarial que tomou para si o desafio de enfrentar a febre aftosa em 1999, quando reuniu os principais pecuaristas para formar um grupo de combate a uma guerra sanitária que deveria ser enfrentada durante anos a fio.
Vidal foi a mente brilhante que criou o FEFA Fundo de Erradicação da Febre Aftosa, mecanismo essencial para permitir que a iniciativa privada e o governo pudessem ter um canal de ajustamento para os programas e as ações de enfrentamento da doença.
Se hoje nossa pecuária tem a pujança que tem, parte importante deve-se às iniciativas pioneiras e desbravadoras que ele tomou para si como um desafio pessoal, e mergulhou profundamente em buscar soluções.
Assim, quero deixar este pequeno registro de memória e em memória desse meu querido amigo que, neste momento, certamente recebeu um cortejo de anjos para sua travessia para o outro plano. Tenho convicção que seu exemplo como pessoa e como empreendedor, vai reverberar por muitas décadas em nosso estado de Rondônia.
Desejo sinceramente que as autoridades do governo saibam respeitar e reconhecer esse trabalho pioneiro e decisivo que José Vidal Hilgert entregou a Rondônia e nosso povo, em sua notável contribuição para melhorar o nosso futuro.