A tese dos Quatro Elementos (Terra, Água, Fogo e Ar) atravessa milênios de tradições religiosas, filosóficas e ocultistas, constituindo-se em fundamento simbólico do Hermetismo, da Alquimia, da Astrologia e da Magia Ritualística. Eles compreendem as forças vivas originárias que sustentam o Cosmo, o microcosmo humano e tudo o que existe entre o Céu e a Terra.
O elemento Terra simboliza estabilidade, fertilidade e a dimensão material. Associada ao princípio feminino, governa a concretização das coisas, a nutrição e o corpo físico. Alquimicamente, representa o sal, substância fixa e duradoura. Na Astrologia, conecta-se aos signos de Touro, Virgem e Capricórnio, sendo influenciada por Saturno. Suas cores são o verde e o marrom, o dia é o sábado, as pedras relacionadas incluem a esmeralda, turquesa e hematita; ervas como patchouli, arruda e cipreste são também associadas. Deidades relacionadas são Gaia e Deméter; os gnomos, por sua vez, são elementais guardiões das florestas e dos tesouros subterrâneos. Nos rituais wiccanos, a Terra é invocada em círculos mágicos para proteção e estabilidade.
O elemento Água corresponde às emoções, à intuição e à purificação. Na seara da Alquimia e da Astrologia corresponde ao mercúrio, símbolo da fluidez e da dissolução. Rege os signos de Câncer, Escorpião e Peixes, estando associada à Lua e a Netuno. Sua cor é o azul e o prateado, o dia é a segunda-feira, as pedras incluem água-marinha, pérola e safira, e as ervas são camomila e salgueiro. Entre as divindades estão Ísis, Yemanjá e as Náiades, elementais aquáticos. Nos rituais, a Água é utilizada em aspersões, consagrações e ritos de cura, como nos antigos festivais célticos junto a rios sagrados.
O elemento Fogo guarda o princípio da transformação, energia vital e iluminação espiritual. Na Alquimia, identifica-se ao enxofre, a centelha da combustão. Em Astrologia, governa Áries, Leão e Sagitário, além de estar vinculado ao Sol e a Marte. Suas cores são o vermelho e o dourado, o dia é o domingo, as pedras incluem granada, rubi e olho-de-tigre, ao passo que as ervas relacionadas são o alecrim, a pimenta e a canela. Deuses como Rá, Héstia, Agni e as salamandras (elementais do fogo) são seus representantes. Na tradição egípcia, Rá é um Deus Solar que encarna o ciclo diário do Sol; Héstia é uma Deusa grega protetora do fogo sagrado do lar e do culto doméstico; Agni, por sua vez, representa a energia vital (prāṇa), a transformação e a mediação entre o humano e o divino no Panteão Veda. Rituais de veneração ao fogo mantêm a chama eterna nos templos de Vesta, em Roma; as fogueiras de São João preservam tradições ancestrais europeias na abertura do solstício de verão no hemisfério norte e de inverno no hemisfério sul.
O Ar é símbolo do pensamento, da respiração e do sopro divino. Alquimicamente, corresponde ao espírito, veículo da inspiração. Na Astrologia, rege os signos de Gêmeos, Libra e Aquário, sendo associado a Mercúrio e a Urano. Suas cores são o amarelo e o branco, o dia é a quarta-feira, quartzo, citrino e topázio são as pedras associadas; nos rituais do Fogo, alfazema e sálvia são usadas como incenso. Entre suas divindades estão Hermes e Shu; os silfos são os espíritos do vento. Nos rituais mágicos, o Ar é evocado com incensos, cantos e sopros, favorecendo a comunicação com planos superiores.
Numa síntese mística, o conjunto dos Quatro Elementos representa a totalidade do ser e do Cosmos. Cada quadrante cardeal expressa uma dessas forças, formando o Círculo Mágico: Norte (Terra), Sul (Fogo), Leste (Ar), Oeste (Água). Na visão hermética, sua integração conduz ao equilíbrio alquímico e à “coincidentia oppositorum”, ou seja, a união dos opostos. Os grimórios medievais, a Cabala hermética e a Wicca moderna reforçam que cada ritual deve respeitar a invocação equilibrada dos elementos nos quatro quadrantes do círculo mágico, simbolizando a harmonia universal. Essa distribuição é base da liturgia wiccana, em que cada ritual se inicia invocando os quatro quadrantes, em analogia com a cruz cristã.
A Ordem Rosa-Cruz também utiliza a rosa (símbolo da alma) e a cruz (símbolo dos quatro elementos), ensinando que o equilíbrio entre eles leva à reintegração do ser. Como afirma Éliphas Lévi, no livro Dogma e Ritual da Alta Magia(1854), “sem o equilíbrio dos elementos não há Magia, mas apenas ilusão”. Assim, os quatro elementos constituem um alfabeto cósmico, no qual o magista, o alquimista e o místico cristão leem a linguagem da Criação, utilizando rituais, orações e símbolos para harmonizar-se com o Todo.
Giovanni Seabra
Grão Mestre do Colégio dos Magos e Sacerdotisas
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