O ensino da história e cultura afro-brasileiras e africanas nas escolas é uma ferramenta essencial no combate à intolerância e ao racismo, conforme defendem mestres da cultura popular. No Brasil, a Lei 10.639/03 prevê a obrigatoriedade desse ensino em todas as instituições de ensino, tanto públicas quanto particulares. No entanto, a lei ainda não é devidamente aplicada em muitas escolas.
A Rainha de Congo Isabel Casimira, dirigente da Federação dos Congados de Minas Gerais e codiretora do filme premiado “A Rainha Nzinga Chegou”, participou de um debate em Tiradentes e comentou sobre o descumprimento da lei. Segundo ela, muitas escolas ignoram a obrigação ou simulam o ensino, “fingindo que fazem”. Ela e Claudinei Matias do Nascimento, o Mestre-Capitão Prego, destacaram a importância de valorizar a história e as contribuições do povo negro para que não sejam esquecidas.
Isabel Casimira também trabalha na formação de professores, oferecendo palestras para que eles possam dominar o assunto e evitar a propagação de informações erradas em sala de aula. Já Mestre Prego, líder do Congado Nossa Senhora do Rosário e Escrava Anastácia, lamentou não ser valorizado em seu próprio município, apesar de receber escolas de outras cidades para suas oficinas.
O desconhecimento sobre a cultura afro-brasileira alimenta o preconceito. Mestre Prego relatou que seu grupo foi proibido de entrar em uma igreja em Tiradentes por ter o nome da Escrava Anastácia em sua bandeira, apesar da devoção compartilhada com Nossa Senhora do Rosário. Ele ressaltou que a história das 22 mil pessoas escravizadas que construíram a cidade é silenciada e não faz parte das rotas turísticas. Isabel Casimira defende que a educação nas escolas pode ensinar as pessoas a respeitarem diferentes crenças e religiões.
Em 2025, a tradição do congado foi reconhecida como Patrimônio Cultural do Brasil, após 17 anos de espera. Registrado pelo Iphan, o congado é uma tradição de mais de 300 anos, com forte identidade de matriz africana, envolvendo canto, ritmo e dança.
A 14ª edição do Festival Artes Vertentes, onde a discussão ocorreu, teve como tema a conexão histórica entre América, África e Europa. O evento segue até 21 de setembro em Tiradentes, São João del Rei e Bichinho, como parte da Temporada França-Brasil.