Porto Velho. No Programa Conexão RH, apresentado por Mariana Goedert, o presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos, seccional Rondônia, Fagner Gonçalves, traçou um mapa direto dos desafios e caminhos para a gestão de pessoas no estado. Em uma conversa franca e didática, ele defendeu que Rondônia precisa conectar a formação profissional às vocações econômicas locais, ajustar a remuneração para reter talentos e atualizar a régua de avaliação de desempenho para o que realmente importa, resultados.
“Eu sou fascinado por dados, porque números ajudam a enxergar a realidade e a orientar decisões”, disse logo no início, ao se apresentar como administrador, empresário e recém graduado em Direito. Com passagem por endomarketing e recrutamento, Fagner assumiu a presidência da ABRH-RO após cinco anos de atuação voluntária, motivado pelo desejo de “fomentar uma gestão de pessoas mais estratégica”.
Emprego que conversa com a economia
Para o dirigente, o primeiro passo é pensar a empregabilidade de forma estratégica. “O desenvolvimento econômico precisa caminhar junto com o desenvolvimento humano”, pontuou. Ele citou a ampliação de rotas de comércio exterior, como a janela para a China, para defender maior oferta de formação em áreas ligadas a logística e comércio exterior. “Se formamos jovens em áreas que não dialogam com a demanda, o mercado vai buscar fora e o nosso jovem não encontra a sua oportunidade”, resumiu.
Essa desconexão aparece também nos bancos de dados públicos, observou. Segundo ele, Rondônia forma proporcionalmente mais profissionais em Direito e Gestão Pública do que a média nacional, fenômeno alimentado pela atratividade do setor público, que paga, em média, de 57% a 60% a mais do que o setor privado. “O RH precisa discutir remuneração estratégica, senão seguimos perdendo bons profissionais”, alertou.
Inclusão etária e avaliação por competências
Outro ponto sensível é a queda nas vagas para profissionais 40+, apesar do avanço dessa faixa etária em cursos de qualificação. “O mercado está perdendo quem mais se prepara”, afirmou, ao defender um recrutamento centrado em habilidades e competências, não em idade. Nessa linha, Fagner reforçou que performance deve ser medida por entregas e não por tempo de casa. “Dependendo da função, alguém com pouca experiência pode entregar mais do que alguém com muita. Precisamos rever como avaliamos desempenho.”
Para reduzir o descompasso entre teoria e prática no dia a dia das empresas, a ABRH-RO criou a Diretoria Jovem RH e tem promovido encontros como o Café com RH, com agendas sobre gestão de gerações, inclusão e diversidade. “É formação contínua e troca entre gestores que elevam a régua”, disse.
IA como ferramenta, gente no centro
A conversa também passou pela inteligência artificial e pela digitalização de processos de seleção. Fagner vê a tecnologia como aliada, desde que a cultura acompanhe. “Estamos num processo de inclusão de IA nos fluxos, mas quem prepara as equipes para recepcionar essas mudanças são pessoas. Não é a tecnologia que vai fazer isso sozinha.” Entre as competências que ganham relevância, ele destacou pensamento analítico e comunicação, necessárias para os próximos cinco anos. “Se quisermos estar prontos, precisamos treinar agora.”
Um só fluxo de vagas e currículos
No front da empregabilidade, Fagner defende um ecossistema integrado. Em vez de cada empresa, consultoria ou entidade manter seu próprio banco de currículos, ele propõe uma plataforma única, com participação do poder público e integração aos sistemas de RH. “Hoje o gestor publica a vaga em três, quatro lugares e ainda recebe currículo por WhatsApp. É ineficiente e faz talento se perder no caminho”, disse, citando a plataforma Geração Emprego como base promissora a ser aprimorada para critérios comportamentais e integração sistêmica. Ele também propõe a criação de um Conselho de Empregabilidade, unindo entidades empresariais e representações de trabalhadores para definir rumos comuns de médio e longo prazo.
Congresso Rondoniense de Gestão de Pessoas
Pivô dessa agenda, o quarto Congresso Rondoniense de Gestão de Pessoas acontece em 28 e 29 de novembro, com foco em futuro do trabalho. A programação prevê um bloco matinal dedicado ao setor público, oficinas à tarde e abertura oficial com a presença de Paulo Sardinha, presidente do Conselho Deliberativo da ABRH Brasil, além de dirigentes nacionais e convidados internacionais, como o ex-presidente da Associação de Gestão de Pessoas de Portugal. “É um evento para qualquer pessoa interessada em gestão de pessoas, do estudante ao empresário. É conteúdo, conexão e tendências em dois dias intensos”, convidou Fagner.
Mariana reforçou o caráter prático da troca que o congresso oferece. “Você sai de lá com um olhar diferente”, disse a apresentadora, ao destacar que participar da comunidade amplia repertórios e encurta caminhos. Fagner concordou, encerrando com um recado que serve de bússola para quem lidera e para quem busca espaço: “A gestão de pessoas evolui com a sociedade. Quem não acompanha, fica obsoleto. Vamos estudar, nos envolver e posicionar o RH de Rondônia como referência no país.”