O Momento Agro saiu do estúdio para contar, no chão da estufa, a história da Hidroponia Porto Verde, liderada por Fernando Veneiro. Entre bancadas, bombas e placas eletrônicas, a reportagem registrou o ciclo completo da alface hidropônica e um enredo de família, inovação e resiliência que começou nos anos 1990, com o pai de Fernando, Adalto, pioneiro do sistema na capital.
Da crise à inovação
A origem vem de 1995, quando a família, “moída financeiramente”, descobriu por acaso a alface com raiz, característica do cultivo hidropônico, e decidiu estudar o método. De improvisos com tetrapak e PVC às telhas de fibrocimento com isolamento em isopor, a estrutura foi profissionalizada até chegar ao modelo atual, que ocupa quase 20 mil m² e funciona em ambiente controlado, reduzindo a dependência de chuva e insolação. A sucessão familiar mantém vivo o legado de Adalto, “no Oriente Eterno”, e fortalece laços com a comunidade.
O ciclo produtivo, passo a passo
A produção começa em espuma fenólica e semeadora artesanal. As sementes — variedades como Lucy Brown e mimosa, vendidas em lotes de 5 mil a 25 mil unidades — germinam em dois dias e seguem para a sementeira (4–5 dias de desenvolvimento). Depois, passam ao berçário por 7 a 10 dias. Na fase definitiva, ficam mais 20–22 dias. O ciclo total vai de 43 a 47 dias até o ponto de venda. Em rota contínua, bancadas são plantadas, lavadas e realimentadas em sequência para garantir constância de oferta.
Mercado, cultura de consumo e renda
A operação emprega quatro colaboradores (mais logística de entrega). Histórias como a de uma funcionária que construiu a casa com a renda do trabalho evidenciam o impacto social. No varejo local, o consumo de hortaliças ainda oscila conforme sazonalidade de renda (salários no fim e início de mês) e hábitos alimentares, o que exige planejamento fino da semeadura.
Quando tudo depende de 40 minutos
Mesmo sob controle ambiental, o risco é diário. Uma bomba queimada ou queda de energia sem gerador pode comprometer um pavilhão inteiro — ou “a horta toda” — em 40 minutos, inviabilizando milhares de maços. Peste e manejo também pesam: testes com repelentes à base de óleos essenciais queimaram folhas e travaram o crescimento, provocando descarte de bancadas inteiras (parte vira alimento para peixes vizinhos). Pragas como trips tiram padrão e valor comercial.
A matemática da água e dos sais
A irrigação é recirculante: a água sobe por bombeamento e retorna por gravidade. Registros calibrados “no olhômetro” e furos padronizados asseguram vazão uniforme em cada canaleta. Diariamente, a equipe mede e corrige a eletrocondutividade (EC) conforme o porte da planta, ajustando nutrientes para desempenho e qualidade.
Tecnologia feita em Porto Velho
Para mitigar falhas críticas, a estufa usa placas de monitoramento desenvolvidas localmente pelo engenheiro Bruno Tomaz. O sistema integra temporização, telemetria via Wi-Fi, alarme sonoro e dashboard de status das bombas. Ao detectar que uma bomba não respondeu ao comando, dispara sirene e aponta a origem da falha, ganhando minutos valiosos. A automação, somada ao gerador de energia, virou seguro de operação.
Voz do campo: incentivo que chega na hora certa
A reportagem também ouviu um apelo por políticas públicas e assistência técnica mais próximas do produtor: visitas, orientação e linhas de custeio com capacitação. “Não queremos nada de graça”, resume o discurso, que pede foco em tecnologia e gestão para pequenos e médios, evitando que investimentos virem risco.
Serviço ao produtor: lições práticas
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Planejamento por janelas de demanda: sincronizar o ciclo às semanas de maior giro no varejo.
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Monitoramento 24/7: telemetria, alarme e gerador para o “intervalo crítico” de 40 minutos.
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EC e qualidade: rotina de medição e ajuste de sais por estágio da planta.
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Ensaios controlados: testar insumos (repelentes/inseticidas) em microparcelas antes de escalar.
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Gestão de perdas: mapear destinos de descarte (ex.: piscicultura), evitando desperdício total.