O sistema Defesa Civil Alerta será testado na região Norte do Brasil neste sábado (20), com o envio de alertas de demonstração para 28 municípios em sete estados, incluindo Rondônia. A iniciativa cumpre o compromisso do ministro da Integração e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, de nacionalizar a ferramenta e ampliar a proteção da população em situações de risco.
Durante o lançamento, as defesas civis estaduais enviarão alertas a celulares de moradores das cidades selecionadas após comando do ministro, que acompanhará a operação a partir do Amapá. Em Brasília, jornalistas acompanharão a transmissão em tempo real na sala de controle do Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres (Cenad), com participação da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sedec), Anatel e operadoras de telefonia.
Em Rondônia, os testes de demonstração vão ocorrer em Porto Velho, Ji-Paraná, Ariquemes e Vilhena. O sistema utiliza a tecnologia de Cell Broadcast, que envia mensagens de texto e avisos sonoros diretamente para celulares em áreas de risco, sem necessidade de cadastro e funcionando mesmo em modo silencioso.
Entrevista exclusiva com Armin Braun
O News Rondônia conseguiu uma entrevista exclusiva, conduzida pelo jornalista Fabiano Coutinho, com Armin Braun, diretor do Cenad, que explicou os objetivos e desafios do novo sistema.
Fabiano Coutinho: Sr. Armin, fala pra gente qual é o impacto esperado na implantação do Defesa Civil Alerta em Rondônia.
Armin Braun: Bom, nós esperamos, com o implemento desse mecanismo, dessa ferramenta de alerta, que haja uma maior cobertura no sistema de alerta, na possibilidade da defesa civil do Estado, principalmente nesse primeiro momento, poder emitir essas informações de alerta à população, de forma que a população esteja com uma maior cobertura no que diz a receber informações sobre riscos. Então, essa é uma ferramenta importante, estrutura toda uma capacidade no Estado de receber essas informações via celular.
Fabiano Coutinho: Esses quatro que foram escolhidos, as quatro cidades – Porto Velho, Ji-Paraná, Ariquemes e Vilhena – por que elas?
Armin Braun: Nesse primeiro momento, que vai acontecer nesse sábado, é um alerta de demonstração. Então, junto com a defesa civil, foram escolhidos esses municípios de forma que a gente pudesse observar como a população vai reagir, primeiramente, a essa mensagem. Essa primeira mensagem é uma mensagem de demonstração, para que a população saiba que ela estará, a partir desse momento, coberta com esse tipo de alerta. Então, a própria capital foi escolhida e outros municípios foram elencados pela defesa civil estadual, levantando alguns aspectos técnicos e também de contingente populacional, para se poder, a partir daí, verificar como a população recebe essa informação e a gente poder, também, fazer a melhoria do processo de comunicação com a população quanto a essa nova ferramenta. Só uma observação: os municípios que estão recebendo esse alerta estão recebendo a mensagem de demonstração. A partir dessa mensagem, que vai ser esse sábado, a ferramenta já vai estar operacional em todo o estado.
Fabiano Coutinho: Como o Cenad tem trabalhado em parceria com a defesa civil de Rondônia para essa primeira etapa?
Armin Braun: A gente, já há algum tempo, vem trabalhando com todas as defesas civis do Brasil e, em especial, com a progressão da ferramenta para a região Norte, a gente passou a articular com a defesa civil de Rondônia. Nós temos um trabalho muito próximo com a defesa civil de Rondônia, que é um órgão muito bem estruturado, é um órgão que tem boa capacidade de atuar em ações de preparação, de prevenção e de resposta a desastres. E já há algum tempo, temos uma conversa bastante afinada com a defesa civil do estado. Eles participaram de diversas reuniões conosco, enviaram pessoas aqui para o Cenad, receberam treinamento, nós enviamos equipe aí, que também fez o treinamento da equipe local. Então a gente está com essa conversa muito bem afiada com esse bom órgão de defesa civil, que é a defesa civil estadual de Rondônia.
Fabiano Coutinho: Quais os principais desafios em Rondônia para garantir a eficácia do sistema, considerando áreas de difícil acesso e comunidades ribeirinhas?
Armin Braun: Essa ferramenta é de comunicação por celular, pela rede de celular. Então ela tem um limitador, que é o alcance das informações de celular. Onde tem cobertura de celular 4G ou 5G a ferramenta funciona; onde não tem, a ferramenta não funciona. Mas isso não significa que a ferramenta seja ruim. Ela é uma ferramenta complementar. Ela complementa outras ferramentas e outros mecanismos de alarme, alguns já instalados nas próprias comunidades. O objetivo é que informações sejam ampliadas por qualquer tipo de sistema de alerta. Esse sistema de alerta é um complementar que usa da tecnologia de celular e, onde tem o alcance do celular, a gente tem a ferramenta funcionando. Eu diria que os maiores desafios são essa questão tecnológica – onde não há cobertura de celular, essa ferramenta não funciona – e também a preparação da população. A população tem que estar preparada, e saber que hoje nós vemos no mundo, especialmente no Brasil, com a mudança do clima, riscos aumentados de inundações, principalmente de chuvas, inundações e de estiagem. A estiagem por si só não geraria a necessidade de emissão de alerta por celular, mas a estiagem pode gerar incêndios florestais, e os incêndios florestais sim podem levar a defesa civil a ter que tocar algum alerta para alguma região, por exemplo, alguma cidade que possa estar no caminho de um incêndio florestal muito forte. Então a mudança climática nos traz esse desafio de que a população esteja mais preparada para esses eventos.
Fabiano Coutinho: Falando nisso, no passado nós sofremos aqui com a enchente do rio Madeira. Como o sistema pode auxiliar na evacuação e alerta precoce em relação à população para que se previna?
Armin Braun: Esse mecanismo é um mecanismo que vai informar a população de um eventual risco. Se esse risco for muito intenso e houver necessidade das pessoas, por exemplo, deixarem de forma rápida o local onde elas estão para ir para uma área segura, uma mensagem vai ser enviada pela defesa civil do estado àquelas populações que estão em uma determinada área de risco, especificamente aí onde vocês estão, nas margens do rio Madeira. As pessoas vão poder receber informação e se deslocar. Elas vão receber uma orientação para se deslocar para uma área segura. Então, com a iminência de uma ocorrência, na hipótese dessa ocorrência de inundação, a defesa civil toca esse alerta para a população. A população recebe os alertas no seu celular e segue as orientações da defesa civil. E para isso também é importante que as pessoas estejam preparadas e saibam como agir. Isso também faz parte desse contexto que a gente está levando à população, de que se ela vive numa área de risco, que sofre com inundações, ela já tem que saber o que fazer no caso de receber uma informação desse tipo. Para isso, há uma ampla campanha em redes sociais, também na mídia, e vocês nos apoiando bastante nesse processo de comunicação com a população, para que a pessoa busque orientações na defesa civil, nas redes sociais da defesa civil nacional, da defesa civil estadual, da defesa civil municipal, telefone para a defesa civil e busque essas informações. Se ela vive numa área de risco, ela tem que saber como agir no caso desse risco se conformar em desastre.
Fabiano Coutinho: Há planos de integrar o Defesa Civil Alerta com rádios comunitárias, outros canais de comunicação usados em áreas rurais?
Armin Braun: Nós trabalhamos numa plataforma chamada Interface de Divulgação de Alertas Públicos. Nós já trabalhamos nessa plataforma, e agora estamos inserindo o Defesa Civil Alerta, que é o alerta pela tecnologia Cell Broadcast. Esse alerta, quando chegar, vai chegar para todos os celulares; em alertas extremos, os celulares vão tocar e vibrar, mesmo que estejam no silencioso. Mas a gente tem outras ferramentas: alerta por WhatsApp, na TV por assinatura, por SMS, e as informações são compartilhadas no Google. Há sim uma expectativa de, no futuro, a gente trabalhar também com rádios comunitárias. Esse é um caminho que estamos começando, após passar essa fase do Defesa Civil Alerta, buscar outros mecanismos na TV digital, nas rádios comunitárias e outros mecanismos que a gente possa também utilizar para chegar na população. E a experiência de Rondônia vai ser muito importante para nós, porque, uma vez que a cobertura de celular é talvez menor que em estados da região Sudeste, essa experiência da Defesa Civil de Rondônia conosco permite que a gente aprimore, e a própria Defesa Civil vai nos indicar novos mecanismos e novos aprimoramentos na forma de emitir alerta no Brasil.
Fabiano Coutinho: Há poucos dias tivemos uma situação de vendaval em Vilhena. De que forma o sistema ajudará a reduzir esses impactos de desastre recorrentes aqui em Rondônia?
Armin Braun: Pensando numa situação como a que aconteceu em Vilhena: se a meteorologia identificar um potencial risco de vendaval e conseguir, de maneira antecipada, saber que isso vai acontecer, a meteorologia vai mandar uma informação para a Defesa Civil. A Defesa Civil vai olhar aquela informação e verificar qual o potencial de causar dano. No caso do vendaval, há risco de destelhamento de casas, derrubamento de placas e outros danos comuns. Então, a Defesa Civil vai acionar o sistema e emitir um alerta para as pessoas, dizendo: “Olha, pode acontecer um vendaval na sua região, tome medidas de proteção.” Essas medidas incluem, por exemplo, não sair na rua, buscar áreas mais seguras, se retirar de instalações que eventualmente são mais precárias e podem ser derrubadas com o vendaval. No caso de alguns veículos grandes, por exemplo, evitar sair na rua, estacionar o veículo, porque um caminhão-baú pode ser tombado pelo vento. A mensagem viria acompanhada de algumas orientações de como a pessoa deve se proteger em caso de desastre. Essa é uma ferramenta cujo fundamento principal é proteger e salvar vidas, trazendo informações de algo que vai acontecer com orientações para que a pessoa busque algum local seguro ou saia de uma determinada área de risco ou se proteja de um determinado evento.
Fabiano Coutinho: E como será avaliada a demonstração do próximo sábado?
Armin Braun: A gente vai enviar o alerta-demonstração e fazer uma avaliação de como a população recebeu isso, verificar se há necessidade de uma maior comunicação com a população e como deve ser feita essa comunicação. Esse alerta-demonstração tem dois objetivos: fazer essa avaliação de como a população recebe a informação e também dar ciência à população de que a ferramenta está operacional a partir de agora. Então, a partir de semana que vem, as pessoas vão poder receber alerta por celular sem precisar se assustar. Aliás, elas naturalmente vão tomar um susto quando receberem a informação, mas imediatamente vão saber que essa é a informação que vem da Defesa Civil. É uma orientação para que ela se proteja e que em alguns momentos possa salvar a sua vida. Além das pessoas que vão receber o alerta, a gente conta com todo o trabalho que está sendo feito nas redes sociais da Defesa Civil Nacional, da Defesa Civil do Estado, da Defesa Civil do município e dos outros municípios envolvidos, e também por vocês, da imprensa, que estão ajudando a gente a divulgar e fazer chegar à população de todo o Estado essa comunicação. Então, a população de Rondônia vai estar ciente de que esse novo mecanismo existe, funciona e é um mecanismo que veio para ajudar as pessoas a salvar e proteger suas vidas.
Fabiano Coutinho: O senhor respondeu todas as perguntas que eu tinha, mas gostaria que deixasse um recado final para a população de Rondônia.
Armin Braun: É muito importante que a nossa população, não só de Rondônia, mas de todo o Brasil, esteja preparada para esse cenário de ocorrência e recorrência de desastres. A mudança climática está aí, ela já nos afeta severamente. Rondônia tem sofrido muitas vezes com inundações graduais que são cada vez maiores e com estiagens também que são cada vez maiores. A gente sabe o efeito importante e danoso que a estiagem tem nas nossas populações, principalmente aí no Estado de Rondônia, que é o estado da água, é um estado onde tem muita água, e quando você tem períodos severos de estiagem, você tem todo esse problema relacionado à falta de água, os rios que não conseguem ser navegados e, o mais importante, a questão dos incêndios florestais. Os incêndios florestais também se tornam cada vez mais fortes e frequentes e podem trazer grandes danos. A mudança climática está aí, precisamos nos adaptar, e uma maneira de se adaptar é saber lidar com isso, saber lidar com o desastre, tomar ações e medidas antecipadas. Quando a gente desenvolve e implanta uma ferramenta dessa no Estado, buscamos que a população de Rondônia esteja mais protegida frente a esses desastres que podem causar danos à população, e mais uma vez, buscamos sempre a proteção das pessoas. Esse é o nosso objetivo: a Defesa Civil trabalha para proteger e salvar vidas.
Fabiano Coutinho: Perfeito.
Ao final, Braun reforçou: “A mudança climática já nos afeta com inundações e estiagens severas. Rondônia precisa estar preparada. Essa ferramenta veio para proteger e salvar vidas.”
Com a demonstração marcada, o Defesa Civil Alerta estará operacional em todo o estado após os testes deste sábado, permitindo o envio de avisos em tempo real sempre que houver risco iminente. A população deve acompanhar as orientações da Defesa Civil e buscar informações nos canais oficiais para garantir sua segurança.