A criação do mercado de carbono não é suficiente para promover a transição energética necessária para combater a crise climática, segundo o professor Pedro Paulo Zahluth Bastos, do Instituto de Economia da Unicamp. Em um artigo publicado na revista Phenomenal World, o economista argumenta que a proposta, coordenada pela ONU, tem servido mais para desviar a discussão sobre o que realmente funciona.
Para o professor, o mercado de carbono é ineficiente porque não consegue fixar um preço global para a emissão de carbono, o que impede a aceleração de investimentos “verdes”. Ele destaca que a baixa lucratividade das energias renováveis, com retorno anual de 6% a 8%, afasta o financiamento de bancos privados, que preferem o retorno de mais de 10% oferecido pelos combustíveis fósseis.
Zahluth Bastos defende que a solução para a transição energética depende de um robusto planejamento estatal. Ele argumenta que o governo deve, primeiro, criar a oferta de tecnologias verdes e infraestrutura acessível. Somente depois que a infraestrutura e as tecnologias estiverem disponíveis, o aumento dos preços do carbono poderia induzir uma substituição rápida. Ele também lembra que, desde o Protocolo de Kyoto, o consumo de combustíveis fósseis no mundo aumentou 58%.
O economista também avalia que a compensação das emissões com o reflorestamento de florestas é inviável como solução única. Ele calcula que seria possível reflorestar apenas 900 milhões de hectares no mundo, uma área que absorveria o equivalente a somente cinco anos de emissões atuais, demonstrando a limitação dessa alternativa.