Pesquisadores da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) estão investigando se o medicamento Mounjaro, conhecido como “caneta emagrecedora”, pode frear a progressão do Alzheimer. O fármaco, que já é utilizado no tratamento da diabetes tipo 2 e da obesidade, contém a substância tirzepatida, apontada em estudos anteriores como potencialmente benéfica para a memória.
O professor titular de Anatomia da UERJ, Carlos Alberto Mandarim-de-Lacerda, explicou que a equipe fará testes cognitivos e análises cerebrais para verificar se os efeitos positivos identificados em modelos animais se confirmam em diferentes cenários.
Conexão entre diabetes e Alzheimer
Estudos científicos já apontaram relação entre diabetes tipo 2 e Alzheimer, levando alguns especialistas a se referirem à doença neurodegenerativa como “diabetes tipo 3”.
“O fato de muitos pacientes com Alzheimer também apresentarem diabetes tipo 2 torna natural o interesse em investigar medicamentos inovadores já usados nesse tratamento”, afirmou Mandarim-de-Lacerda em entrevista ao jornal O Globo.
A neuroinflamação, característica comum em doenças degenerativas, também é um dos pontos centrais da pesquisa.
Testes em animais
A investigação da UERJ será dividida em duas fases:
Primeira etapa: ratos fêmeas com obesidade, diabetes e menopausa serão tratados com tirzepatida, com análise de proteínas cerebrais ligadas ao hipotálamo, região mais afetada pela neuroinflamação.
Segunda etapa: ratos machos submetidos a estímulos que causam perda de memória receberão o medicamento, permitindo avaliar impactos diretos na cognição.
A presidente da Faperj (Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro), Caroline Alves, destacou a relevância da iniciativa:
“Estamos falando de doenças que impactam milhões de brasileiros e para as quais ainda existem poucas alternativas. Essa investigação pode abrir caminhos para a prevenção e o tratamento de condições como Alzheimer, diabetes e obesidade. É um orgulho para a ciência fluminense.”
Resultados preliminares
A equipe da UERJ já publicou resultados iniciais em revistas internacionais, como Diabetes, Obesity and Metabolism (DOM) e Life Sciences, destacando os efeitos da tirzepatida em ratos com obesidade, menopausa e diabetes tipo 2.
O estudo agora busca aprofundar a compreensão sobre a possibilidade de o medicamento Mounjaro se tornar também uma alternativa no combate ao Alzheimer, uma das doenças que mais afeta idosos em todo o mundo.