As principais bacias hidrográficas do Brasil, como as do Paraná, São Francisco e Tocantins, estão em déficit hídrico há 10 anos, com um padrão de secas cada vez mais severas. A análise do Centro Nacional de Monitoramento de Desastres (Cemaden) mostra que, desde 2014, o ciclo de alternância entre cheia e seca foi quebrado, levando a um cenário de estiagem persistente.
Esse padrão expõe uma grave vulnerabilidade no sistema elétrico nacional. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), responsável por prever a capacidade de geração das hidrelétricas, ainda utiliza um modelo baseado em dados históricos de 90 anos. Essa abordagem otimista desconsidera a tendência de seca recente e ignora os efeitos das mudanças climáticas, o que gera incerteza sobre o fornecimento de energia no futuro e encarece a conta de luz.
ONS reconhece a falha e especialistas cobram urgência
O próprio ONS admite que os dados históricos “necessitam de atualizações para, de fato, contemplarem as mudanças climáticas e eventos extremos”. Ex-diretores de órgãos do setor, como Luiz Barata (ONS) e Jerson Kelman (Aneel), confirmaram que as tentativas de modernizar o sistema foram barradas por resistência interna.
Para a doutora em hidrologia Adriana Cuartas, o país vive um “novo normal” climático, e não uma crise pontual. Ela e o pesquisador Carlos Nobre explicam que a junção do aquecimento global com o desmatamento mudou o padrão de chuvas no Brasil. Se o sistema não for atualizado, a falha de previsão pode levar a racionamentos e um aumento ainda maior no custo da energia para os consumidores.
Impacto direto no bolso do consumidor
A falha do modelo de previsão tem impacto direto na conta de luz. Desde agosto, a Aneel acionou a bandeira vermelha patamar 2, a mais cara, devido ao baixo nível dos reservatórios. O acionamento de termelétricas para compensar a falta de água nas hidrelétricas torna a energia mais cara. Sem uma atualização no sistema, esse cenário pode se agravar.
Especialistas alertam que a demanda por energia pode subir em 14% nos próximos cinco anos, o que, somado à defasagem no modelo de previsão, coloca em risco a segurança energética do país no longo prazo.