Em seu novo livro, Tomara que você seja deportado: uma viagem pela distopia americana, o jornalista Jamil Chade explora a desumanização dos imigrantes e a crise existencial dos Estados Unidos sob o governo de Donald Trump. O livro é o resultado de uma jornada de milhares de quilômetros, percorrendo os dois lados do muro que separa os EUA do México.
Em entrevista exclusiva à Agência Brasil, Chade, correspondente internacional há 25 anos, explicou que a “distopia” americana é resultado do colapso de mitos como o “sonho americano”. Segundo o autor, o governo Trump tenta restaurar uma hegemonia que não existe mais, e a desinformação é uma ferramenta fundamental nesse processo. “A desinformação não é um erro de apuração… é uma estratégia de poder, é uma estratégia de desmontar a realidade para levar o eleitor a chancelar outra realidade fabricada”, afirmou.
O papel da desumanização dos imigrantes
Chade destacou que a desumanização é uma estratégia política deliberada para justificar o ódio, a xenofobia e o racismo. “Quando você desumaniza o outro, você tira justamente as obrigações que aquele Estado tem de prestar serviços e de garantir os direitos básicos. Afinal, ele já não é tão mais humano quanto os demais”, explicou o jornalista. Ele comparou a situação a um genocídio, que começa com a desumanização antes do primeiro disparo. O título do livro é uma referência a uma frase que o filho de Chade ouviu de uma criança em uma escola nos EUA, exemplificando a toxicidade do discurso.
A América Latina na mira dos EUA
Ao analisar o contexto geopolítico, Chade avalia que os EUA consideram a América Latina seu “quintal” e estão tentando recuperá-la na disputa por poder com a China. Para ele, o Brasil é a “joia da coroa” nas ambições de Washington. A eleição de 2026 no país, segundo o jornalista, será crucial para determinar o futuro da geopolítica na região. Chade aponta que a democracia americana está em risco, com o uso de seus próprios instrumentos para manter um grupo no poder e a manipulação das leis.
Biografia de Jamil Chade
Jamil Chade trabalha há 25 anos como correspondente internacional em Genebra, na Suíça. Ele já visitou 70 países e colaborou com diversos veículos de comunicação.