Uma pesquisa conjunta da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e do Instituto de Defesa de Consumidores (Idec) demonstra a crescente desigualdade digital no Brasil. O estudo, realizado entre agosto de 2023 e junho de 2024, revela que a falta de acesso à internet móvel, principalmente por conta da limitação de dados, atinge de forma desproporcional as classes de menor renda. Cerca de 35% das pessoas com renda de até 3 salários mínimos ficaram sete dias ou mais sem conexão. Esse problema é ainda mais grave para os mais vulneráveis, onde 11,6% ficaram mais de 15 dias sem acesso, uma taxa seis vezes maior do que a de pessoas com renda superior.
O levantamento também mostra as consequências diretas dessa falta de conectividade. Mais da metade dos brasileiros afetados deixaram de usar serviços bancários, plataformas do governo, serviços de saúde e até de estudar. Para o coordenador do programa de Telecomunicações e Direitos Digitais do Idec, Luã Cruz, os dados revelam que a desigualdade no país é perpetuada por desafios de conectividade.
Acessibilidade de dispositivos e habilidades digitais
A pesquisa destaca a disparidade na posse de dispositivos. Entre os indivíduos com renda de até 1 salário mínimo, 51% têm celulares que custam menos de R$ 1.000, enquanto a população de maior renda adquire aparelhos mais caros. Outro dado relevante é que quase metade (47,3%) das pessoas que não possuem computador justificam a ausência do equipamento pelo alto custo de aquisição.
Apesar da alta satisfação com os aparelhos celulares e as habilidades digitais em geral, o estudo indica que a satisfação é menor entre grupos mais vulneráveis, como os de baixa renda e idosos. Lucas Marcon, advogado do Idec, ressalta que a desigualdade é refletida no setor de telecomunicações e reforça a necessidade de políticas mais amplas para o acesso à banda larga.