Pela primeira vez no Brasil, a técnica de clonagem artesanal desenvolvida pelo renomado cientista húngaro-australiano Dr. Gábor Vajta será demonstrada em campo. Ji-Paraná (RO) foi escolhida para sediar o Workshop Internacional de Clonagem Artesanal (HMC – Handmade Cloning), entre os dias 8 e 13 de setembro, reunindo especialistas de países como Austrália, Arábia Saudita, Paquistão e Ucrânia, além de grandes nomes da embriologia nacional. O evento conta com apoio da São Lucas Afya Ji-Paraná, instituição anfitriã da programação.
O workshop marca o início de um projeto pioneiro que visa democratizar a clonagem animal, hoje limitada a laboratórios com tecnologia de alto custo. A técnica HMC — que dispensa equipamentos sofisticados e tem eficiência até seis vezes maior que a clonagem tradicional — promete tornar o processo mais acessível, viável em campo e com impactos diretos na produção leiteira, na sustentabilidade e até na saúde humana.
“A clonagem artesanal representa uma virada de chave. É a primeira vez que conseguimos levar uma biotecnologia tão avançada para dentro das fazendas, com custos significativamente mais baixos e taxas de sucesso surpreendentes”, afirma o médico veterinário e embriologista Cassiano Rodrigues Filho, coordenador do workshop.
“Nossa intenção é tirar a clonagem do ambiente de laboratório e colocá-la ao alcance de pequenos e médios produtores, especialmente aqui na Amazônia Legal, onde os desafios logísticos são grandes, mas o potencial produtivo é ainda maior.”
A técnica HMC, criada pelo Dr. Vajta — referência global na embriologia humana e animal, com mais de mil suínos clonados na Dinamarca — dispensa micromanipuladores caros, reduzindo o custo por clone de até R$ 100 mil para patamares acessíveis ao mercado nacional. Além disso, a eficiência da técnica chega a 25%, enquanto a clonagem convencional gira em torno de 1% a 4%.
Impactos além do agronegócio
A iniciativa busca não apenas ganhos econômicos para o campo, mas também benefícios sociais e ambientais. A possibilidade de clonar vacas altamente produtivas, por exemplo, pode multiplicar em dez vezes a produção de leite, permitindo que pequenos sítios sustentem mais famílias e reduzam o êxodo rural.
“Se antes o produtor precisava de dez vacas para tirar 60 litros de leite, com clones de vacas de alto rendimento ele poderá produzir o mesmo com apenas uma. Isso muda completamente a lógica da produção e da permanência no campo”, explica Cassiano.
Além do impacto direto na pecuária, a técnica poderá ser aplicada em projetos de clonagem de suínos geneticamente modificados, voltados à produção de órgãos para transplantes humanos — um dos maiores desafios da medicina contemporânea.
“Estamos falando de um passo importante também para a saúde humana. A clonagem de suínos modificados pode ser a chave para zerar as filas de transplante de órgãos em alguns anos”, acrescenta o coordenador.
Formação e networking
O workshop também se consolida como oportunidade estratégica de formação e integração entre profissionais do setor agropecuário e da medicina veterinária.
“As biotecnologias reprodutivas são cruciais para a melhoria genética dos rebanhos, acelerando o progresso na produtividade, resistência a doenças e qualidade dos produtos de origem animal. Este workshop realizado na São Lucas Afya é uma oportunidade imperdível de aprimorar os conhecimentos e estabelecer networking com profissionais reconhecidos em todo o mundo, em especial o Dr. Gábor Vajta, que é considerado o ‘papa’ da embriologia veterinária”, afirma o professor Bruno Porto de Lima, coordenador do curso de Medicina Veterinária da instituição.
Próximas etapas
O workshop será a primeira fase do projeto, que prevê a realização de parcerias com fazendas locais para implantação da técnica, acompanhamento de prenhezes, nascimentos e, futuramente, o lançamento de uma empresa especializada em clonagem comercial acessível.
“É um projeto de longo prazo, com etapas bem definidas. A ideia é construir tudo com transparência, resultados mensuráveis e com a participação de quem quer fazer parte dessa revolução”, conclui Cassiano Rodrigues.