O advogado Eli Cohen, considerado uma das primeiras pessoas a denunciar a ilegalidade dos descontos de mensalidades associativas em benefícios previdenciários, declarou à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) que a fraude envolveu a conivência de servidores públicos e de autoridades de alto escalão. Em seu depoimento, Cohen mencionou que “combinaram de não enxergar nada” e que o crime não funcionaria sem o envolvimento da cúpula do INSS.
A investigação de Cohen teve início em dezembro de 2022, após ser procurado por dois aposentados, usados como “laranjas” em um esquema que envolvia diversas associações. A Operação Sem Desconto, deflagrada em abril de 2025 pela Polícia Federal e pela Controladoria-Geral da União, revelou a extensão das fraudes, resultando na exoneração do então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto.
O uso do jornalismo investigativo
Cohen relatou que, diante da inércia das autoridades, recorreu ao jornalismo investigativo para dar visibilidade às denúncias. “Eu só utilizo o jornalismo investigativo quando as autoridades se recusam, prevaricam. A verdade é essa”, afirmou. O inquérito policial que levou à Operação Sem Desconto foi embasado em matérias jornalísticas que ampliaram a investigação inicial do advogado.
Histórico das fraudes e o papel da MP 130
Para o advogado, a origem das fraudes, popularmente conhecidas como a “Farra do INSS”, está ligada à Medida Provisória 130 de 2003, que autorizou os descontos em folha de empréstimos consignados. Ele destacou que a medida, que tinha o objetivo de dar acesso a crédito, foi “mal operada”, priorizando os interesses de instituições financeiras.
Cohen citou que, a partir de 2005, começaram a surgir reclamações sobre fraudes em empréstimos consignados, com centenas de ações judiciais de aposentados alegando não terem solicitado os empréstimos. Ele concluiu que o modelo de fraude é replicado por sindicatos e associações, e as vítimas são sempre os aposentados e pensionistas.