Especialistas e analistas internacionais entrevistados pela Agência Brasil rejeitam a tese de que a Venezuela seja um narcoestado, defendida pelo governo dos Estados Unidos para justificar ameaças militares ao país. Segundo a consultora da União Europeia, Gabriela de Luca, o termo é impreciso. Ela afirma que, embora haja militares e autoridades venezuelanas envolvidos em esquemas de tráfico, não existem provas de uma estrutura centralizada, comandada pelo governo, que ponha o Estado a serviço do narcotráfico.
A acusação, que se intensificou no primeiro mandato de Donald Trump, foi reforçada recentemente por declarações do secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, que chamou o governo de Nicolás Maduro de uma “organização criminosa”. No entanto, o ex-oficial de Inteligência dos EUA, Fulton Armstrong, questiona a existência do chamado “Cartel de los Soles”, que seria liderado por Maduro, afirmando que nenhum analista sério fora do governo americano confirma a existência de tal grupo.
O coronel da reserva da PM do Rio de Janeiro, Robson Rodrigues, também concorda que a atuação desses grupos criminosos é superestimada, e que o envolvimento de autoridades com o tráfico ocorre em vários países, incluindo os próprios EUA. Segundo ele, as Forças Armadas e agências americanas, como a CIA, já estiveram envolvidas com o tráfico de drogas.
Relatórios de organizações como a Agência das Nações Unidas para Drogas e Crime (UNODC) e o Washington Office on Latin America (WOLA) também não classificam a Venezuela como um grande centro do mercado global de drogas. Eles apontam que o país é uma rota de passagem, e não um produtor relevante. A presidente do México, Claudia Sheinbaum, também contestou as acusações de que Maduro teria ligações com o Cartel de Sinaloa. Líderes latino-americanos, como o presidente Lula, reforçam que o combate ao crime organizado deve ocorrer por meio da cooperação entre países e sem a necessidade de intervenções externas.