O embaixador Celso Amorim, assessor especial para Assuntos Internacionais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, avalia que o governo dos Estados Unidos, liderado por Donald Trump, busca desestabilizar o Brasil e outros países progressistas na América Latina. Em entrevista à TV Cultura, Amorim afirmou que essa é uma estratégia para subordinar a região à influência americana. Para ele, a diversificação do comércio é a nova forma de garantir a independência do país.
Amorim citou um “estado de quase guerra” dos EUA contra o Brasil, rebatendo as críticas de que o governo brasileiro estaria falhando na diplomacia. Ele argumenta que “para negociar, é preciso que os dois queiram”, e que a Casa Branca tem tentado reeditar a Doutrina Monroe, que considera a América Latina como área de influência exclusiva de Washington.
A nova ordem global e os Brics
O embaixador destacou que o segundo governo de Trump representa uma nova realidade, que busca enfraquecer o multilateralismo e dividir o mundo em blocos regionais. Ele defendeu que a diversificação da economia brasileira não se limita apenas aos países do Brics, mas inclui também a África, a União Europeia e a Ásia. Amorim ressaltou que a presença de países como Emirados Árabes Unidos e Índia no Brics, que têm relações próximas com os EUA, prova que o bloco não tem um caráter ideológico.
Como exemplo da pressão americana, Amorim mencionou a exigência de Trump para que a China quadruplique a compra de soja dos EUA, o que poderia prejudicar as exportações brasileiras. Ele classificou a atitude como uma “coisa ganha na força”, o que reforça a necessidade de buscar outros mercados para evitar a imprevisibilidade.
Integração sul-americana e desdolarização
Sobre a integração latino-americana, Amorim reconheceu as dificuldades, mas defendeu a reconstituição de conselhos regionais. Ele mencionou o Consenso de Brasília, assinado em 2023 por 11 países da América do Sul, como um passo para definir metas de integração.
Em relação ao processo de desdolarização, o embaixador afirmou que o uso de moedas locais é uma tendência inevitável, impulsionada pela transformação do sistema multilateral. Ele explicou que a dependência do dólar está ligada a um sistema que está em mudança, e que os países naturalmente buscarão novas formas de garantir a estabilidade comercial.