A adultização infantil é o processo em que crianças passam a adotar comportamentos, linguagens, estilos e estéticas típicos da vida adulta antes do tempo. Isso inclui desde o uso de roupas sexualizadas até a participação em conteúdos digitais com conotação adulta, muitas vezes estimulados por tendências de redes sociais e estratégias de marketing. Especialistas apontam que essa antecipação pode causar impactos duradouros no desenvolvimento emocional e social, aumentando a vulnerabilidade a abusos e exploração sexual.
No Brasil, o tema ganhou destaque após as denúncias do influenciador Felca (Felipe Bressanim Pereira), que publicou um vídeo mostrando como conteúdos aparentemente inofensivos, como dancinhas e fotos de crianças, são amplamente compartilhados e até mesmo potencializados por algoritmos, chegando a públicos predadores. O material provocou forte reação pública e política.
Segundo dados apresentados na Câmara dos Deputados em 12 de agosto de 2025, foram protocolados 32 projetos de lei para reforçar a proteção de menores no ambiente digital. No mesmo dia, o Senado Federal formalizou a criação de uma CPI para investigar casos de exploração infantil nas redes.
Impactos e riscos da adultização
Pesquisas acadêmicas e guias institucionais, como o produzido pelo Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social (MDS), indicam que a adultização está associada a:
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Maior risco de violência sexual on-line e off-line.
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Prejuízos à autoestima e à imagem corporal.
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Início precoce da vida sexual, muitas vezes sem preparo físico e emocional.
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Reforço de estereótipos e padrões de beleza irreais.
O UNICEF e especialistas em psicologia e educação defendem a implementação de educação sexual integral adequada à idade, protocolos de escuta protegida e orientação familiar constante para prevenir a exposição.
O papel das plataformas e da publicidade
Após a repercussão do caso Felca, empresas como Meta e Google anunciaram medidas emergenciais, incluindo filtros adicionais, restrições em comentários e ajustes em sistemas de recomendação. Porém, especialistas afirmam que é necessário ir além e adotar mecanismos de segurança desde o design das plataformas, com auditoria contínua e transparência sobre resultados.
O marketing também é apontado como um vetor importante da adultização. Estudos acadêmicos mostram que campanhas publicitárias, moda e entretenimento podem encurtar a infância ao impor padrões de comportamento e aparência do universo adulto para crianças.
Caminhos para enfrentar o problema
O combate à adultização infantil passa por quatro eixos principais:
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Legislação clara e eficaz — atualização de leis para regular o ambiente digital, responsabilizando plataformas e prevendo respostas rápidas a denúncias.
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Responsabilidade das plataformas — implementação de filtros, moderação proativa e restrições automáticas para contas de menores.
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Educação midiática e sexual — formação de crianças, adolescentes e famílias para identificar riscos e agir preventivamente.
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Autorregulação publicitária — códigos de conduta que impeçam a sexualização de menores em campanhas e conteúdos.
O caso Felca mostra que a adultização infantil não é apenas um debate cultural, mas um problema urgente de proteção integral. Garantir que crianças vivam plenamente sua infância é responsabilidade compartilhada entre famílias, escolas, sociedade, empresas e Estado.