Em entrevista ao jornal americano New York Times, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou que o Brasil negociará como um país soberano e não aceitará participar de uma Guerra Fria contra a China. A declaração ocorre a apenas dois dias da entrada em vigor das tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre produtos brasileiros.
Preocupação com Tarifas e Diálogo com EUA
Questionado sobre as críticas a Trump e seu impacto nas negociações, Lula expressou preocupação com o “tarifaço” devido aos interesses econômicos, políticos e tecnológicos do Brasil. No entanto, ele enfatizou que o país não se curvará: “O Brasil negociará como um país soberano. Na política entre dois Estados, a vontade de nenhum deve prevalecer. Precisamos sempre encontrar um meio-termo”. O presidente reforçou que não é possível misturar questões políticas com comerciais, como, segundo ele, Trump tem feito. Ele criticou a justificativa de Trump para as tarifas, que envolve o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, afirmando que “a causa não merece isso” e que Bolsonaro está sendo julgado com “pleno direito de defesa”.
Dificuldade de Comunicação
Lula revelou ao jornalista Jack Nicas que, apesar de ter designado o vice-presidente, o ministro da Agricultura e o ministro da Economia para dialogar com seus homólogos em Washington, “até agora, não foi possível”. Ele mencionou que o governo brasileiro teve 10 reuniões sobre comércio com o Departamento de Comércio americano e enviou uma carta em 16 de maio pedindo uma resposta. A resposta, contudo, veio “por meio do site do presidente Trump, anunciando as tarifas sobre o Brasil”, o que, para Lula, demonstra um tom de “alguém que não quer conversar”.
Brasil e Relação com a China
Diante da possibilidade de as tarifas entrarem em vigor, Lula afirmou que o Brasil “não vai chorar o leite derramado” e buscará outros mercados. Ele reiterou a posição de não aceitar uma Guerra Fria contra a China, destacando a “relação comercial extraordinária” com o país asiático. “Não tenho preferência. Tenho interesse em vender para quem quiser comprar de mim, para quem pagar mais”, disse o presidente. Nesta segunda-feira (28), a China já havia manifestado que está pronta para trabalhar com o Brasil na defesa de um sistema multilateral de comércio justo e equitativo, criticando as tarifas impostas pelos EUA.