O coronel Bernardo Romão Correa Neto, um dos réus da suposta trama golpista que visava manter o ex-presidente Jair Bolsonaro no poder, afirmou que a reunião de “kids pretos” foi, na verdade, uma confraternização entre amigos da mesma especialidade militar. O militar foi interrogado na manhã desta segunda-feira, 28 de julho de 2025, no Supremo Tribunal Federal (STF).
Romão Correa Neto negou qualquer envolvimento com ideias de ruptura institucional ou golpe de Estado, assim como qualquer planejamento de sequestro ou execução de autoridades adversárias. Ele defendeu que o encontro foi espontâneo, ocorrido em um salão de festas com paredes de vidro, onde foram servidos pizza e refrigerante, tornando impossível qualquer planejamento secreto.
Questionamentos sobre carta e mensagens
O coronel foi confrontado sobre uma carta enviada a um colega, cujo conteúdo atacava o então comandante do Exército, general Freire Gomes, por não aderir aos planos golpistas. Romão Correa Neto alegou que apenas buscou o arquivo em um grupo de aplicativo de mensagens do qual era membro, mas não participava ativamente, e o encaminhou a pedido de um colega. Ele negou que o texto tenha sido elaborado na suposta reunião de “kids pretos”, termo informal para os integrantes das Forças Especiais do Exército.
Além disso, Bernardo Romão Correa Neto foi confrontado com mensagens enviadas ao tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. As mensagens continham teor cifrado que parecia expressar lamento pela hesitação do ex-presidente ou dos comandantes das Forças Armadas. O coronel descreveu-se como um “militar alegre” que gosta de se relacionar, minimizando as conversas como “preocupações com a situação do país” que não deveriam ser levadas a sério.
Sobre uma mensagem em que ele menciona a necessidade de “influenciar” o alto comando das Forças Armadas, o coronel alegou que a Polícia Federal (PF) teria retirado a palavra “positivamente” do texto em seu relatório final. Segundo ele, “influenciar positivamente” significaria convencer os comandantes a esclarecer a real situação do país a seus subordinados, após uma mensagem oficial do Exército ter legitimado manifestações em frente aos quartéis, o que gerou expectativas infundadas.
O coronel pediu desculpas ao Exército e a seus superiores pelo “vazamento” de mensagens que seriam privadas, afirmando: “Nunca vou ser a favor de uma ruptura ou de um golpe de Estado ou nada nesse sentido”.
Interrogatórios do núcleo 3 da trama golpista
O STF realiza nesta segunda-feira (28) os interrogatórios do núcleo 3 da trama golpista, composto por nove militares e um policial federal. Este grupo é acusado de realizar ações de campo para consumar o golpe, incluindo um plano para “neutralizar” adversários, e de promover uma campanha para pressionar o alto comando das Forças Armadas a aderir ao complô.
A lista de réus a serem interrogados inclui:
Bernardo Romão Correa Netto (coronel)
Estevam Theóphilo (general)
Fabrício Moreira de Bastos (coronel)
Hélio Ferreira (tenente-coronel)
Márcio Nunes De Resende Júnior (coronel)
Rafael Martins de Oliveira (tenente-coronel)
Rodrigo Bezerra de Azevedo (tenente-coronel)
Ronald Ferreira de Araújo Júnior (tenente-coronel)
Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros (tenente-coronel)
Wladimir Matos Soares (policial federal)