A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) informou que 96 pesquisadores brasileiros desistiram de realizar parte de seus doutorados sanduíche nos Estados Unidos. A decisão, tomada antes mesmo da solicitação de visto, está ligada a um cenário de preocupação com as interferências políticas e os cortes de verbas na pesquisa em universidades americanas, conforme destacou Denise Pires de Carvalho, presidente da Capes, em entrevista à Agência Brasil, no Rio de Janeiro, em 12 de julho de 2025.
Denise Pires de Carvalho apontou o ambiente de incerteza gerado pelo governo de Donald Trump, que tem promovido ataques e reduzido o financiamento para pesquisas em instituições de ensino americanas, como o principal motivo das desistências. Ela frisou que “algumas áreas [de pesquisa] têm sido impedidas nos Estados Unidos, projetos que têm sido cortados”, e que a escolha de não ir partiu dos próprios programas de pós-graduação e dos pesquisadores, em comum acordo com seus orientadores americanos.
Em 2024, a Capes concedeu 880 bolsas para os Estados Unidos. Contudo, a projeção para 2025 é de apenas 350 bolsas, bem abaixo da meta inicial de 1,2 mil. A presidente da Capes tem sugerido que estudantes e pesquisadores considerem um “plano B”, ressaltando a importância de o Brasil não depender exclusivamente de um único país para o avanço científico e tecnológico. A Capes se mostra flexível em relação à mudança de destino para não prejudicar as teses e projetos.
Os destinos mais procurados por pesquisadores brasileiros atualmente incluem França, Portugal e Espanha. Apesar do incentivo para parcerias com países do Brics, eles ainda são menos visados. Márcio de Araújo Pereira, presidente do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap), concorda com a necessidade de buscar novas colaborações, especialmente com países da União Europeia e o Reino Unido, reforçando que a cooperação científica global é essencial para o desenvolvimento.
Mesmo com as incertezas, Nathalia Bustamante, gerente de Relacionamento com Universidades da Fundação Lemann, enfatiza a relevância da presença de brasileiros em universidades americanas. Ela destaca o valor de estudantes e pesquisadores de diversas origens ocuparem esses espaços de excelência para a produção de conhecimento de ponta e para o desenvolvimento do Brasil. A Fundação Lemann, que já apoiou 760 bolsistas nos EUA, segue monitorando a situação e comprometida com a manutenção dos estudantes brasileiros no exterior.