As tarifas de 50% impostas aos produtos brasileiros, anunciadas na última quarta-feira (9) por Donald Trump, repercutiram intensamente, inclusive nos Estados Unidos. O economista norte-americano Paul Krugman, colunista do jornal The New York Times e vencedor do Nobel de Economia de 2008, não hesitou em classificar a ação do presidente de seu país como “mau e megalomaníaco”.
Em uma postagem em seu blog, intitulada “Programa de Trump de Proteção a Ditadores”, com o subtítulo “Usando tarifas para combater a democracia”, Krugman escreveu: “Eu não costumo fazer postagens noturnas, mas a última carta de Trump, impondo tarifas de 50% ao Brasil, merecem um boletim especial. Afinal, [a medida] é diabólica e megalomaníaca”. O economista reforçou que não há razões econômicas que justifiquem tal medida, afirmando que se trata, essencialmente, de uma tentativa de livrar Jair Bolsonaro de uma condenação por tentativa de golpe de Estado.
As Motivações por Trás das Tarifas
Paul Krugman destacou a ausência de justificativas econômicas para a decisão de Trump. “Note que Trump mal finge que há uma justificativa econômica para sua ação. É sobre punir o Brasil por julgar Jair Bolsonaro”, afirmou o economista em sua publicação na noite de quarta-feira (9). Em seu post, Krugman fez um resumo de quem é Bolsonaro, em sua opinião: “É o presidente anterior do Brasil, que perdeu a última eleição – mas tentou se manter no poder através de um golpe para reverter aquela eleição. Claro que soa familiar”.
Krugman faz menção explícita ao episódio da invasão do Capitólio, ocorrida em 2021, por apoiadores de Donald Trump após sua derrota nas urnas para Joe Biden. Vale lembrar que esses invasores foram condenados em 2023, mas Trump concedeu-lhes perdão presidencial no início de seu segundo mandato.
Na mensagem enviada ao governo brasileiro, Trump demonstrou clara preocupação em livrar seu aliado político da condenação no inquérito em que Bolsonaro é réu no Supremo Tribunal Federal (STF). O presidente norte-americano declarou: “A forma como o Brasil tem tratado o ex-presidente Bolsonaro, um líder altamente respeitado em todo o mundo durante seu mandato, inclusive pelos Estados Unidos, é uma vergonha internacional. Esse julgamento não deveria estar ocorrendo. É uma Caça às Bruxas que deve acabar IMEDIATAMENTE!”.
Na avaliação de Krugman, Donald Trump é um “projeto de ditador” que tenta auxiliar outros com a mesma índole. “Agora, Trump está tentando usar tarifas para ajudar outro projeto de ditador. Se você ainda pensa nos Estados Unidos como um dos mocinhos do mundo, isso deve te mostrar de qual lado nós estamos atualmente”, provocou o Nobel de Economia.
Comércio Internacional e Implicações para o Impeachment
O economista norte-americano utilizou dados de 2022 da Organização Mundial do Comércio (OMC) para contextualizar a relação comercial brasileira. Os números mostram que a China é o maior parceiro comercial do Brasil, absorvendo 26,8% de suas exportações. Os Estados Unidos, por sua vez, aparecem com 11,4%. Diante desses números, Krugman questionou a estratégia de Trump: “Trump realmente imagina que ele pode usar tarifas para intimidar uma nação gigante, que sequer é muito dependente do mercado dos Estados Unidos, para que eles abandonem a democracia?”.
Na visão do Nobel de Economia, as medidas anunciadas por Trump também poderiam ser consideradas argumentos para a abertura de um processo de impeachment contra ele. “Como eu disse, diabólico e megalomaníaco. Se ainda temos uma democracia funcional, essa jogada com o Brasil poderia fundamentar o impeachment. Claro, isso deveria esperar na fila, atrás de outros argumentos”, concluiu Paul Krugman, sugerindo a gravidade das ações do presidente em relação ao cenário político e econômico.