O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou nesta quinta-feira, 10 de julho de 2025, em entrevista à Record TV, que o governo federal vai apresentar uma reclamação oficial à Organização Mundial do Comércio (OMC). O objetivo é reverter as tarifas de 50% sobre exportações de produtos brasileiros aos Estados Unidos, anunciadas por Donald Trump. Caso essa medida não seja bem-sucedida, o Brasil adotará retaliações proporcionais, garantiu o presidente.
“Não tenha dúvida que, primeiro, nós vamos tentar negociar. Mas, se não tiver negociação, a Lei da Reciprocidade será colocada em prática. Se ele vai cobrar 50% de nós, nós vamos cobrar 50% dele”, reforçou o presidente. Lula planeja que o recurso à OMC seja articulado com outros países que também foram taxados pelos EUA. “Dentro da OMC, você pode encontrar um grupo de países que foram taxados pelos EUA. Tem toda uma tramitação que a gente pode fazer. Se nada disso der resultado, vamos ter que fazer [de acordo com] a Lei da Reciprocidade”, acrescentou.
A lei brasileira mencionada pelo presidente foi sancionada em abril de 2025. Ela estabelece critérios para a suspensão de concessões comerciais, de investimentos e de obrigações relativas a direitos de propriedade intelectual em resposta a medidas unilaterais adotadas por país ou bloco econômico que impactem negativamente a competitividade internacional brasileira.
Apoio a Empresas e Reafirmação da Soberania
Lula informou que criará um comitê, com a participação de empresários que exportam aos EUA, para analisar o novo cenário comercial com os americanos. “Não vou dizer um gabinete de crise, vou dizer um gabinete de repensar a política comercial brasileira com os EUA”, pontuou. O presidente prometeu apoiar o setor empresarial e empenhar-se para que os produtos brasileiros que deixarem de ser vendidos aos EUA encontrem compradores em outros países. “Vamos ter que proteger [o setor produtivo], vamos ter que procurar outros parceiros para comprar nossos produtos. O comércio do Brasil com os EUA representa 1,7% do PIB [Produto Interno Bruto]. Não é essa coisa de que a gente não pode sobreviver sem os EUA. Obviamente que nós queremos vender”.
Em um trecho da entrevista, divulgado em suas redes sociais, Lula voltou a cobrar respeito de Trump e criticou a forma como a carta foi divulgada, antes mesmo de chegar ao destinatário oficial. “O Brasil é um país que não tem contencioso de ninguém. Aqui, tudo se resolve numa conversa. Achei que a carta do presidente Trump era um material apócrifo. Não é costume você ficar mandando correspondência para outro presidente através do site do presidente da República”, criticou.
Lula recordou a bicentenária relação diplomática entre Brasil e EUA, destacando ter tido bom relacionamento com todos os demais líderes norte-americanos nas últimas duas décadas. “O Brasil tem 201 anos de relação com os Estados Unidos. Uma relação diplomática virtuosa, uma relação de benefício para ambos os lados. Eu me dei bem com o Clinton, com o Bush, com o Obama, com o Biden. O Brasil é um país de conversa”.
Sobre os termos da carta de Trump, o presidente brasileiro rebateu a alegação de disparidade comercial, ressaltando que os EUA obtêm superávits comerciais com o Brasil há pelo menos 15 anos. Quanto à exigência de Trump de impedir que o ex-presidente Jair Bolsonaro não seja julgado por tentativa de golpe de Estado, Lula reafirmou a independência do Poder Judiciário. “Eu não me meto no Poder Judiciário porque aqui o Judiciário é autônomo”, disse. “O que não pode é ele pensar que ele foi eleito para ser xerife no mundo. Ele pode fazer o que ele quiser dentro dos EUA. Aqui, no Brasil, quem manda somos nós brasileiros”, continuou o presidente. Lula ainda responsabilizou Bolsonaro pela penalização ao comércio brasileiro: “O ex-presidente da República deveria assumir a responsabilidade, porque ele está concordando com a taxação do Trump ao Brasil. Aliás, foi o filho dele que foi lá fazer a cabeça do Trump”.