O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, nesta terça-feira, 8 de julho de 2025, no Palácio da Alvorada, em uma visita de Estado que reforçou os laços entre o Brasil e o país mais populoso do mundo. Modi chegou à capital federal após participar da cúpula do Brics no Rio de Janeiro.
Em declaração conjunta à imprensa, Lula e Modi defenderam que Brasil e Índia assumam um papel mais proeminente na governança global. Lula reiterou o pedido para que ambos os países se tornem membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU. “Não é mais possível a gente ver a ONU enfraquecida, não sendo levada em consideração. E os membros fixos [permanentes] do Conselho, que deveriam primar pela paz, são os que mais estimulam a guerra”, criticou o presidente brasileiro.
Narendra Modi ecoou a posição de Lula, destacando a parceria entre as duas nações como um fator crucial para a estabilidade internacional. “Nós acreditamos que todas essas disputas devem ser resolvidas por meio do diálogo e da democracia. Nossas visões nessa luta com o terrorismo estão aliadas, tolerância zero”, afirmou o líder indiano. Lula reforçou a importância de fortalecer iniciativas conjuntas em áreas estratégicas, citando a solidez democrática, a diversidade cultural e a pujança econômica como elementos que aproximam os dois países.
Comércio Bilateral e Acordos Firmados
Um dos temas centrais do encontro foi a ampliação do comércio bilateral. Lula defendeu a expansão do Acordo Mercosul-Índia para reduzir barreiras comerciais. “Hoje, apenas 14% das exportações brasileiras para a Índia estão cobertas pelo acordo. Temos muito a avançar”, disse, citando ainda a necessidade de aprofundar contatos em turismo, negócios e intercâmbio cultural.
A Índia é atualmente o décimo maior parceiro comercial do Brasil. Em 2024, o comércio entre os dois países atingiu US$ 12 bilhões, com exportações brasileiras totalizando US$ 5,26 bilhões (principalmente açúcar, petróleo bruto, óleos e aviões) e importações de US$ 6,8 bilhões, tornando a Índia a sexta maior origem de importações para o Brasil. Modi expressou otimismo, afirmando que é possível elevar o fluxo comercial para “utilizar vários milhões de dólares nos próximos cinco anos” e “chegar a US$ 20 bilhões” na cooperação comercial.
Entre os acordos firmados pelos dois líderes, destacam-se:
Cooperação no combate ao terrorismo e ao crime organizado transnacional.
Memorando de Entendimento em energia renovável, com foco em transmissão de energia.
Memorando para compartilhamento de soluções digitais em larga escala, voltadas à transformação digital.
Na agenda ambiental, Lula enfatizou o papel de liderança do Brasil e da Índia. “Chegaremos à COP 30 como líderes da transição energética justa. Mostraremos que é possível aliar redução nas emissões de gases de efeito estufa e crescimento econômico e inclusão social”, declarou. Lula mencionou que a Índia é o mercado de bioenergia que mais cresce no mundo, com metas ambiciosas para a mistura de etanol na gasolina e biodiesel no diesel. Em agosto, Brasil e ONU realizarão em Nova Délhi a segunda rodada do Balanço Ético Global, mobilizando a sociedade civil para a COP30. A candidatura da Índia para sediar a COP 33, segundo Lula, “fortalece o protagonismo dos países emergentes no enfrentamento à mudança do clima.”
Críticas de Lula a Donald Trump
Ao final de sua declaração, o presidente Lula voltou a criticar a reação do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre as ameaças de tarifas contra os países do Brics. “Nós não aceitamos nenhuma reclamação contra a reunião do Brics. Não concordamos quando, ontem, o presidente dos Estados Unidos insinuou que vai taxar os países que negociarem com o Brics”, concluiu Lula.