O presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou nesta segunda-feira, 7 de julho de 2025, logo após o encerramento da 17ª Cúpula de Líderes do Brics no Museu de Arte Moderna (MAM), no Rio de Janeiro, que o grupo não foi criado para afrontar ninguém. Para Lula, o Brics representa “um outro modelo, um outro modo de fazer política, uma coisa mais solidária”, e que o bloco “não quer um mundo tutelado”.
O presidente reforçou sua defesa do multilateralismo e apontou falhas no modelo atual de governança global. Ele criticou o Fundo Monetário Internacional (FMI), alegando que o financiamento a países pobres, atrelado a medidas de austeridade, inviabiliza a recuperação econômica. “Não é para emprestar dinheiro e levar os países à falência, como o que tem acontecido, porque o modelo de austeridade que tem sido feito por outros países é fazer com que a dívida seja impagável cada vez mais”, afirmou.
Críticas à ONU e Conflitos Globais
Lula também contestou a formação do Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU), onde apenas cinco dos 15 integrantes possuem vaga permanente e poder de veto: Estados Unidos, China, Rússia, França e Reino Unido. “Nós precisamos ter consciência de que o mundo precisa mudar. Nós estamos vendo hoje, possivelmente, depois da Segunda Guerra Mundial [1939-1945], o maior período de conflito entre os países”, apontou Lula, citando a guerra do Iraque e as invasões da Líbia e da Ucrânia. Ele argumentou que “ninguém pede licença para fazer guerra”, indicando uma lacuna na atuação do Conselho de Segurança. “Depois a ONU perde credibilidade e autoridade para negociar. Quem é que negocia?”, indagou o presidente.
A declaração final do Brics reforça o apoio da China e da Rússia às aspirações do Brasil e da Índia de desempenhar um papel mais relevante no Conselho de Segurança. O Brasil já ocupou vaga rotativa, mas sem poder de veto. Lula criticou novamente a ofensiva israelense na Faixa de Gaza. “Já passou da capacidade de compreensão de qualquer mortal do planeta Terra dizer que aquilo é uma guerra contra o Hamas, e só se mata inocente, mulheres e crianças”. No domingo, o presidente brasileiro já havia se referido à ação de Israel como genocídio.
Moedas Locais e Expansão do Bloco
Atualmente, o Brics é composto por 11 países-membros e dez parceiros. Segundo Lula, que ocupa a presidência rotativa anual do grupo, o bloco está aberto para a entrada de mais países, descrevendo-o como uma “metamorfose ambulante”. “Não é uma coisa fechada, não é um clube de privilegiados. É um conjunto de países querendo criar um outro jeito de organizar o mundo do ponto de vista econômico, do ponto de vista do desenvolvimento, do ponto de vista da relação humana”.
Questionado sobre as negociações para que o comércio entre os países seja em moedas locais, em vez do dólar americano, Lula reconheceu a dificuldade de mudar hábitos enraizados por décadas. No entanto, ele enfatizou que “o mundo precisa encontrar um jeito de que a nossa relação comercial não precise passar pelo dólar”. “Ninguém determinou que o dólar é a moeda padrão”, pontuou. O presidente concluiu que, embora exija cautela e discussões entre bancos centrais, o uso de moedas locais “é uma coisa que não tem volta. Vai acontecendo aos poucos até que seja consolidado”.
Entenda o Brics
O Brics é formado por 11 países-membros: África do Sul, Arábia Saudita, Brasil, China, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia, Índia, Irã e Rússia. Essas nações representam 39% da economia mundial e 48,5% da população do planeta. Os países com status de parceiros são Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Nigéria, Tailândia, Uganda, Uzbequistão e Vietnã, que não possuem poder de voto. Os países-membros se alternam anualmente na presidência, com o Brasil sendo sucedido pela Índia em 2026.