Entre as tantas praias que compõem o mosaico natural do litoral potiguar, poucas guardam ainda a força bruta da natureza como a Praia das Minas, em Pipa. Numa era em que até o paraíso se torna instagramável demais, ela resiste — quase secreta, quase intocada. E isso, por si só, já é notícia.
Ali, não há quiosques com Wi-Fi, cadeiras na areia ou ambulantes disputando atenção. O que se vê é um cenário puro, marcado por falésias monumentais, dunas que deslizam com o vento e um mar vigoroso, que não perdoa distrações. É o tipo de lugar que exige respeito — e preparo. Para chegar, não basta querer: é preciso enfrentar trilhas íngremes, caminhar pelas pedras ou encarar estradas de barro. O acesso difícil ajuda a manter a praia como um santuário — e talvez esteja aí seu maior valor.
A Praia das Minas é também uma das áreas de desova das tartarugas marinhas monitoradas pelo Projeto TAMAR. De novembro a abril, é possível acompanhar esse espetáculo silencioso da vida se renovando, algo que transforma qualquer visitante sensível. E, no entanto, falta sinalização. Falta consciência. Falta cuidado.
Essa ausência de infraestrutura, que por um lado protege a rusticidade do lugar, por outro expõe um problema crônico do nosso turismo: o abandono disfarçado de preservação. Não há banheiros, não há placas educativas, não há sequer orientação sobre como evitar danos aos ninhos das tartarugas. O visitante precisa ser, ele mesmo, guia e guardião.
O apelo, aqui, é para que a Praia das Minas seja valorizada sem ser invadida. Que continue sendo um destino para quem busca conexão com a terra, o vento e o silêncio — não para quem quer apenas mais uma selfie entre falésias. Mas é também um chamado para que o poder público se faça presente de forma inteligente e sustentável: com informação, fiscalização e apoio à preservação.
Visitar a Praia das Minas é um exercício de humildade. É entender que a natureza não está ali para nos servir, mas para ser respeitada. Que beleza, quando verdadeira, exige compromisso.
Que ela siga assim: selvagem, deserta, resistente. E que a gente, como sociedade, esteja à altura de sua grandeza.