No dia 14 de junho de 2025, participei como palestrante da 3ª Festa Cultural da aldeia ASANUÉÉJ, localizada no Parque Aripuanã, na Reserva Roosevelt, em Pimenta Bueno.
Ao chegar no local, em meio à vastidão da floresta amazônica, onde o rio Roosevelt, com suas águas escuras e cachoeiras, corta o silêncio ancestral e a mata abriga segredos milenares, vive a etnia Cinta Larga, tendo como grande líder o cacique João Brabo, uma das principais lideranças desse povo. Cacique respeitado, sua trajetória é marcada por coragem, resistência e o incansável compromisso com a proteção de seu território e de seu povo.
Filho da terra e da tradição, João Brabo cresceu entre os ensinamentos dos mais velhos, ouvindo histórias ao redor da fogueira e aprendendo a linguagem dos espíritos da floresta. Sua liderança não foi herdada por imposição, mas conquistada por respeito, construído ao longo dos anos por sua atuação firme na defesa dos direitos indígenas e na preservação das raízes culturais dos Cinta Larga.
A Terra Indígena Roosevelt, onde vive a maioria de seu povo, é rica em biodiversidade e também em minerais como diamantes, o que historicamente a tornou alvo de garimpeiros ilegais. João Brabo se tornou uma figura central na luta contra a exploração predatória e na exigência de respeito à autonomia indígena. Seu nome passou a ecoar além das aldeias, ganhando atenção nacional e internacional, especialmente após os conflitos relacionados ao garimpo clandestino, quando, em julho de 1963, pistoleiros contratados pela empresa mineradora Arruda & Junqueira quase dizimaram a etnia Cinta Larga, causando um verdadeiro genocídio, matando homens, mulheres e crianças com requintes de crueldade.
Para os Cinta Larga, “seu território é vida. Não é só terra, é espírito, é história. Quem destrói a floresta está destruindo a nossa alma”, afirmou o cacique João Brabo em conversa reservada com o historiador Lourismar Barroso. Sua fala carrega o peso de séculos de resistência e a urgência de um povo que enfrenta constantes ameaças.
Além de líder tribal e político, João Brabo é também um guardião do conhecimento tradicional. Incentiva os jovens da aldeia a aprenderem a língua materna, os rituais e os valores sagrados do povo Cinta Larga. Para ele, a educação deve ser um elo entre os saberes indígenas e o mundo exterior, sem que isso implique na perda da identidade.
Sua figura é respeitada até entre os não indígenas da região. Em reuniões com órgãos públicos, João Brabo se apresenta com serenidade e firmeza, exigindo diálogo verdadeiro e ações concretas. Sua presença é símbolo de uma liderança que não cede diante da pressão, mas que também preza pela paz e pela diplomacia.
O legado de João Brabo não se mede apenas em palavras, mas na força de um povo que continua de pé, mesmo diante de tantas tentativas de apagamento. Ele é, para os Cinta Larga, mais que um cacique: é um símbolo de dignidade, resistência e sabedoria.
Em tempos em que a floresta clama por proteção e os povos originários por respeito, vozes como a de João Brabo ressoam como alerta e esperança. Sua luta é a luta de todos os que acreditam na vida em harmonia com a natureza e na preservação das culturas ancestrais.
Atualmente, o cacique João Brabo concedeu parte de seu território para um de seus filhos liderar: a aldeia ASANUÉÉJ (“irmãos”), tendo como cacique Marcelin, um grande líder que vem abrindo espaço para a visitação através do etnoturismo, incentivando pessoas a conhecerem a cultura e a história do seu povo, além de interagir em competições como: lançamento de flecha, canoagem, receita de ervas, desfile cultural e saborear os pratos típicos da aldeia.
A visão do cacique Marcelin é abrir espaço para os não indígenas conhecerem sua cultura e deixar uma mensagem aos mais jovens indígenas: reconhecer a importância da tradição é manter vivos os ensinamentos que serão repassados como legado.
Com esse novo empreendimento, o objetivo do cacique Marcelin é trazer o visitante para interagir com os povos da floresta e passar um dia nesse paraíso sagrado dos Cinta Larga.
O incentivo para esse evento contou com a participação e apoio cultural da Prefeitura Municipal de Pimenta Bueno, em nome da prefeita Marcelina Rodrigues; da secretária da Semfaz e presidente do Comtur, Gilmara Guerreiro; do presidente da Câmara Municipal de Pimenta Bueno, vereador Lucas Maciel; do secretário de Obras, Roni Peterson; e do meu amigo Sidney Antunes, do Departamento de Turismo.