SEXTA-FEIRA, 27/06/2025
Publicidade

Povo Romani no Brasil: Resistência e desafios enfrentados pela comunidade cigana na busca por direitos básicos e reconhecimento

Estimativa é que no Brasil haja de 800 mil a 1 milhão de ciganos

Por Letycia Bond - Repórter da Agência Brasil - 20

Publicado em 

Povo Romani no Brasil: Resistência e desafios enfrentados pela comunidade cigana na busca por direitos básicos e reconhecimento
Aluízio de Azevedo/Arquivo pessoal

Um povo que resiste, que carrega na memória séculos de diáspora e perseguição, mas também de cultura, tradição e luta pela autodeterminação. Assim é o povo romani — ou povos ciganos —, composto principalmente pelas etnias calon, rom e sinti, que integra a diversidade dos povos tradicionais do Brasil.

Mesmo com esse legado, o povo romani segue entre os grupos mais invisibilizados do país, apontando pouca presença no debate público e nas políticas governamentais. Como outros povos tradicionais, reivindica direitos básicos, como moradia digna, acesso à educação e ao trabalho.

A série de reportagens Invisíveis do Brasil, da Agência Brasil, publicada por ocasião do Dia Nacional do Cigano (24 de maio), amplia a voz dessas lideranças e revela as principais demandas e desafios enfrentados pelo movimento romani no país.

Estima-se que, no Brasil, a população cigana (também conhecida como romani) seja de 800 mil a 1 milhão de pessoas, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O Dia Nacional do Cigano foi instituído em 2006, por meio de decreto presidencial, em homenagem ao povo romani e à sua padroeira, Santa Sara Kali.

Em agosto de 2024, o governo federal instituiu o Plano Nacional de Políticas para Povos Ciganos, que engloba ações previstas para serem implementadas no período de 2024 a 2027 e oficializa a criação de seu comitê gestor. Com o Decreto 12.128/24, o Brasil se tornou o segundo país do mundo a lançar uma política nacional voltada estritamente para o povo romani.

Ao todo, o plano foi estruturado em dez objetivos, que envolvem combate ao anticiganismo, reconhecimento da territorialidade própria dos povos ciganos, direito à cidade, educação, saúde, documentação civil básica, segurança e soberania alimentar, trabalho, emprego e renda e valorização da cultura.

O povo romani tem uma história de diáspora, higienização étnica, genocídio e perseguição, inclusive, pelos nazistas. Um dos 28 povos tradicionais relacionados no Decreto nº 8.750/2016, os ciganos habitam o Brasil pelo menos desde 1574, ano em que o primeiro calon, João Torres, chegou ao país com a mulher e os filhos, vindo de Portugal.

Em 1686, o país começou a deportar ciganos para o Brasil. Documentos portugueses datados daquele ano registram que eles deveriam ser degredados para o Maranhão. Antes, eram levados somente para as colônias africanas.

O multiartista, pesquisador, ativista, jornalista e produtor cultural Aluízio de Azevedo destaca que as pessoas de sua etnia, a calon, sempre tiveram uma ligação com a Península Ibérica, ainda que não fossem de lá. Ele tem a clareza de que as manifestações de repulsa que os colonizadores do Brasil direcionavam aos calon eram reproduzidas no trato com as outras etnias.

“Portugal e Espanha sempre rejeitaram muito os ciganos e os proibiam de falar a sua língua, de praticar ofícios tradicionais, como a leitura de mãos, de uma série de coisas. Por exemplo, de ficar mais de 48 horas em um mesmo lugar. Daí o nomadismo ser uma coisa um pouco forçada. E as penas eram degredo para seu país e suas colônias”, explica.

Segundo Azevedo, por três séculos, Portugal conservou a postura de repelir esses povos. “Além dessas políticas persecutórias e colonialistas que Portugal fez, chegando ao Brasil, o Brasil seguia as mesmas regras, porque era uma colônia portuguesa. Era Portugal quem mandava. E, depois, isso permaneceu no Estado brasileiro, quando ele se liberta administrativa e politicamente de Portugal. Continua com o modus operandi”, observa.

“Durante séculos, o Estado brasileiro foi muito mau com os ciganos, foi muito ruim. Inclusive, ocorreram episódios que ficaram conhecidos como as correrias ciganas, que era a polícia invadir acampamento, matar todo mundo e provocar a correria de todo mundo em fuga”, emenda.

“Isso aconteceu até muito recentemente, com mais força até a década de 1970, mas ainda acontece”, completa Aluízio de Azevedo.

No Brasil, entre os problemas ainda enfrentados por essa parcela da população estão o racismo, o preconceito e a falta de acesso a políticas públicas específicas, como apontam lideranças ciganas entrevistadas pela Agência Brasil.

“Sempre o racismo, o preconceito e a discriminação têm nos distanciado de acessarmos as oportunidades e feito uma diferença entre nós e a sociedade em geral. Nosso sangue é vermelho, igual ao dos outros, também sentimos fome, sede, dor, alegria, paixão. Somos seres humanos comuns, iguais a todos”, diz o presidente administrativo da Associação Nacional das Etnias Ciganas (Anec), o calon Wanderley da Rocha.

O fundador da Associação de Preservação da Cultura Cigana (Apreci), Claudio Iovanovitchi, rom do Paraná, argumenta que o povo romani não está pedindo nada excepcional. “Não queremos inventar a roda, o fogo, novos caminhos para as Índias, coisas diferentes. Não é isso. Queremos o que já existe: o acesso à educação, à escola, à saúde, à habitação. Tudo que queremos já existe. Respeitando as especificidades dos ciganos”, pontua.

“Eu não quero gueto. Não quero gueto na escola. Quero que meu ciganinho seja bem-vindo na escola, com professores preparados”, declara.

Ciganos no Brasil

Em um de seus artigos científicos, intitulado A incriminação pela Diferença, o pesquisador Felipe Berocan Veiga pontua que “os ciganos ora são vistos como uma sobrevivência ou um arcaísmo, ora como uma recorrente ameaça”.

Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), ele explica que a aversão ao povo romani tem “raízes profundas no imaginário, na iconografia, na literatura e nos contos populares”, que acabam ativando “medos infantis e evitações inconscientes”. E que estes, por sua vez, são capazes de aguçar os mais intolerantes a cometer atos de “violência mais explícita” contra membros de suas comunidades.

No Brasil desde o século 16, os povos ciganos ainda pleiteiam a contagem atualizada da população e a vigência do Estatuto dos Povos Ciganos, a ser criado por meio de projeto de lei em tramitação no Congresso Nacional. Atualmente, a matéria (Projeto de Lei nº 1.387/22) está parada na Câmara dos Deputados.

Apresentado pelo senador Paulo Paim (PT-RS), o projeto já foi aprovado na Casa e é considerado imprescindível pelas lideranças porque obrigaria o Estado a cumprir seus deveres para com os ciganos.

Falta de dados

Um dos poucos dados disponíveis sobre essa população indica que, em 2014, 337 cidades abrigavam acampamentos ciganos, segundo informações do IBGE. Para o povo cigano, a falta de informações atualizadas sobre essa população dificulta o acesso a políticas públicas.

O Ministério Público Federal (MPF) já fez uma recomendação ao IBGE pedindo a inclusão do povo romani no Censo Demográfico.

Um dos argumentos apresentados para a falta de informações é o de que a itinerância de alguns grupos dificulta a apuração dos dados. Questionado pela reportagem, no final de janeiro deste ano, o IBGE não deu nenhuma explicação. O instituto confirma, porém, que há, de fato, menos políticas públicas beneficiando o povo romani.

“Os programas ou ações mais recorrentes nos municípios foram direcionados a crianças e adolescentes (37,6%), idosos (35,2%) e mulheres (31,8%). Nas Unidades da Federação, os órgãos de direitos humanos aparentemente desenvolveram políticas de forma mais abrangente, e também direcionadas a públicos específicos, o que indica uma condição organizacional e financeira mais consolidada”, documenta o IBGE em publicação que analisou o cenário de 2014.

“No contexto das Unidades da Federação, as maiores incidências de políticas específicas foram para lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (25); indígenas, quilombolas, ribeirinhos e outros povos e comunidades tradicionais (24); e crianças e adolescentes (23). A política menos presente era a voltada para ciganos (12), também no nível municipal, em que apenas 196 municípios (3,5%) declararam ter políticas direcionadas a esse grupo.”

Publicidade
Publicidade
Publicidade
Publicidade
Publicidade
Publicidade
NEWSTV

NEWS QUE VOCÊ VAI QUERER LER

Rondônia fortalece proteção às mulheres com criação de comitê estadual e redes de enfrentamento à violência

O comitê será responsável por formular e acompanhar ações integradas, além de propor estratégias e indicadores para o Plano Estadual de Prevenção ao Feminicídio.
L

Festival Interlagos 2025 recebe mais de 300 mil pessoas em São Paulo

Com mais de 60 lançamentos e centenas de test-rides, evento reforça interação entre marcas e público
L
clima seco contribuiu para a maturação e colheita do algodão e do milho segunda safra no Centro-Oeste e Sudeste

BMA: clima seco contribuiu para a maturação e colheita do algodão e do milho segunda safra no Centro-Oeste e Sudeste

Dados espectrais apontam condições adequadas para o desenvolvimento do milho segunda safra nas principais regiões produtoras.
L
Conab articula exportação do excedente da agricultura familiar em missão comercial na Argentina

Conab articula exportação do excedente da agricultura familiar em missão comercial na Argentina

Ação busca abrir novos mercados para produtos que superam o consumo interno, gerando renda para pequenos agricultores brasileiros.
L
Publicidade
ENERGISA
Publicidade

DESTAQUES NEWS

Caminhoneiro de Rondônia atinge 3 milhões de km com o mesmo Iveco e desafia os limites da estrada

Modelo Iveco EuroTech 2002 segue em operação intensa após mais de duas décadas de uso
L

Em um encontro em Londres, o rei Carlos III elogiou Marina Silva pelos avanços do governo brasileiro no combate ao desmatamento na Amazônia

O Governo convidou Charles III como convidado de honra para a COP30, em Belém.
L

Emoção em cada cena: os lançamentos da semana no Cine Araújo Porto Velho

Prepare a pipoca, reúna os amigos ou leve a família: esta semana o cinema está imperdível!
L

PM intercepta transporte de droga em porto clandestino de Guajará-Mirim

Suspeito foi detido com cerca de 2 kg de substância semelhante à maconha, supostamente adquirida na Bolívia; entorpecente seria entregue na zona urbana da cidade.
10

Falaê PodCat | Entrevista Pastor Bruno Luciano

Nesta quinta-feira (26), às 18h, o Falaê Podcast recebe o vereador de Porto Velho, Pastor Bruno Luciano do Couto Araújo. Em pauta, os desafios da capital, ações do mandato, fé na vida pública e projetos para transformar a realidade da população. Acompanhe essa conversa franca e reveladora sobre política, espiritualidade e compromisso social.
L
Publicidade

EMPREGOS E CONCURSOS

Indústria Brasileira cria 910,9 mil vagas de emprego entre 2019 e 2023, aponta IBGE

Indústria Brasileira cria 910,9 mil vagas de emprego entre 2019 e 2023, aponta IBGE

Setor alimentício é o ramo industrial que mais contratou
L

ESTAMOS CONTRATANDO: VAGAS PARA RECEPCIONISTA PCD

Envie seu currículo para o email: contatosummusconsultoria@gmail.com
L
SERVENTE DE LIMPEZA

ESTAMOS CONTRATANDO: VAGAS PARA SERVENTE DE LIMPEZA PCD

Envie seu currículo para o email: contatosummusconsultoria@gmail.com
L

Projeto Jovem Aprendiz da Inclusão é aprovado em Porto Velho

De autoria do prefeito Léo Moraes, o projeto garantirá vagas de emprego para jovens neurodivergentes
L
Publicidade

POLÍTICA

Jaime Bagattoli vota contra o aumento de deputados federais e pela derrubada do IOF

Jaime Bagattoli vota contra o aumento de deputados federais e pela derrubada do IOF

Senador critica desejo do Governo de levar pauta do IOF ao Supremo.
L

Ieda Chaves entrega certificados durante execução de cursos do projeto “ALE Vai às Escolas”

Cursos foram realizados com estudantes da Escola Padre Mário Castagna, em Porto Velho.
L

Eyder Brasil busca em Manaus aliança para fortalecer segurança nas fronteiras

Como presidente da Comissão de Segurança, deputado participou de sessão na Assembleia do Amazonas para debater integração contra o crime organizado na divisa dos estados
L
Projeto de Lei de Pedro Geovar que cria o Endereço Social é aprovado na Câmara de Porto Velho

Projeto de Lei de Pedro Geovar que cria o Endereço Social é aprovado na Câmara de Porto Velho

Projeto cria identificação provisória para moradias em áreas irregulares e garante acesso a serviços essenciais, promovendo dignidade e inclusão social.
L
Apae de Vale do Anari recebe R$ 100 mil de emenda da deputada federal Sílvia Cristina

Apae de Vale do Anari recebe R$ 100 mil de emenda da deputada federal Sílvia Cristina

É mais um ano que o recurso da parlamentar é destinado para a instituição.
L
Publicidade

POLÍCIA

Batida entre motos deixa dois feridos na zona Leste

Com o impacto, o piloto que causou o acidente ficou mais ferido e foi socorrido pelo Corpo de Bombeiros para a Policlínica Ana Adelaide.
12

VÍDEO: Câmera registra momento que “Nego Boy” cai morto após ataque a tiros; suspeito foi preso

Testemunhas disseram que escutaram pelo menos seis tiros dentro do imóvel
18

URGENTE: Equipe do sgt Machado fecha o cerco e prende suspeito de matar “Nego Boy”

Após o cerco o suspeito foi encontrado escondido em uma construção abandonada
14

Megaoperação desmantela quadrilha que furtava grãos de embarcações no Rio Madeira

Ação conjunta liderada pela FICCO apreende bens de R$ 126 milhões e prende suspeitos de integrar organização criminosa em Rondônia e Amazonas
14

Operação Curaretinga III: Exército intensifica combate a crimes na fronteira amazônica

Militares atuam com órgãos de segurança na defesa da soberania, repressão ao crime e preservação ambiental em Rondônia e Acre
10
Publicidade

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

GWM lança série limitada do Haval H6 para celebrar liderança

Modelo celebra marco histórico de vendas e reforça aposta da montadora nos híbridos
L

“Consórcio Nacional Librelato” inicia com R$ 120 milhões negociados

Empresa sorteia primeiro implemento da campanha “Estrada de Prêmios” e anuncia novo ciclo no segmento
L
James Strauss, primeiro brasileiro a receber a Medalha de Ouro Mozart de Viena

James Strauss, primeiro brasileiro a receber a Medalha de Ouro Mozart de Viena

Concorrendo ao Grammy Latino 2025 e com três novos álbuns previstos para este ano, flautista pernambucano radicado em Viena conquista uma das maiores honrarias da música clássica internacional.
L
Sistema FAPERON/SENAR lança programa Saúde no Campo durante Dia de Campo em Buritis

Sistema FAPERON/SENAR lança programa Saúde no Campo durante Dia de Campo em Buritis

Programa “Saúde no Campo” será lançado em Buritis com foco na prevenção de doenças e na promoção do bem-estar de produtores e trabalhadores rurais de Rondônia.
L

Agenda News | Entrevista Larissa Oliveira

Nesta quinta-feira, dia 26, às 17h, o programa Agenda News recebe Larissa Oliveira, administradora da Potosí Decorações, para uma conversa inspiradora sobre empreendedorismo, design e liderança feminina.
L
UNIR usa livro lúdico para acolher crianças em cirurgias

UNIR usa livro lúdico para acolher crianças em cirurgias

Cursos de Medicina e Enfermagem atuam com crianças em hospitais da capital para reduzir o medo e promover segurança no ambiente cirúrgico.
L

Jaru é vice-líder nos atendimentos por Telemedicina em Rondônia

Consultas são realizadas por médicos especialistas do Albert Einstein.
L
Publicidade
ENERGISA
Logo News Rondônia
Visão geral da privacidade

Este site usa cookies para que possamos fornecer a melhor experiência de usuário possível. As informações de cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.