O embelecido e mavioso lugar ribeirinho faz o caboclo amazônico mergulhar profundamente na transcendentalidade de seus encantatórios devaneios poetizantes. Essa estetizante e colossal harmonia é resultado de uma formidável generosidade que de forma impoluta entrelaça as famílias da coletividade numa suntuosa e complacente união de respeito, tolerância e brandura ao outro.
Essa reflexão de convivência entre as famílias nos faz recorrer ao pesquisador canadense Edward Relph – Professor de Geografia e Planejamento da Universidade de Toronto – que enfatiza a geografia como estudo de lugares que se refere à descrição e comparação de diferentes partes específicas do mundo, e também como uma geografia de estudo do lugar que se baseia e ao mesmo tempo transcende nas observações singulares no intuito de esclarecer as maneiras como os seres humanos se relacionam com o mundo.
Nessa peculiar relação com o mundo há um encantador prazer dos sentidos, uma fé e exaltação das divindades mitológicas que preenche de forma sobrenatural a alma das coletividades do lugar. São encantarias ancestro-cosmogônicas que numa simbologia de ritos e mitos evoca a presentificação e representação dos deuses da floresta numa purificação de sentimento de devoção do transcendental poder da espiritualidade.
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Sobre o espírito de lugar, Edward Relph nos esclarece que é uma ideia que deriva da crença, onde determinados lugares foram ocupados por deuses ou espíritos cujas qualidades sobrenaturais se tornaram evidentes. O mesmo autor, nos diz ainda que o espírito de lugar é uma identidade muito forte e todas as partes parecem funcionar perfeitamente em conjunto. Podemos, então, dizer, que há um poderoso entranhamento entre o lugar da coletividade, a espiritualidade, a casa e o lar.
É na impoluta casa onde vive o complacente lar, e nessa volúpia e virtuosidade da vida em família, é onde nasce o sentimento imaculado do amor. E como bem ressalta Relph: “o lar é onde as raízes são mais profundas e mais fortes, onde se conhece e se é conhecido pelos outros, o onde se pertence. A ausência de lar pode nos levar à saudade”.