Entranhada à natureza exuberante e divinizada, a desmesurada casa na sua forma imaginal estetizante, desfruta da singularidade de um lar que na sua fascinante dimensão social é possuidor de um autêntico imaginário privilegiado que na sua célebre exaltação dos sentidos, atribui significado e existência ao pertencimento identitário do lugar.
Para o pesquisador e geógrafo humanista Eric Dardel, é desse lugar, base de nossa existência, que despertando, tomamos consciência do mundo e saímos ao seu encontro, audaciosos ou circunspetos, para trabalha-lo. Dardel nos alerta que a paisagem não é, em sua essência, feita para se olhar, mas a inserção do homem no mundo, lugar de um combate pela vida é a manifestação do seu ser.
Um ser preenchido nas espacialidades e territorialidades da ação humana, um ser que cotidianamente vai transformando a paisagem, lapidando-a, e dela arrancando o imaculado sustento da vida. Uma vida que começa bem agasalhada no fecundíssimo aconchego da casa, onde brota os originais valores da intimidade ontológica da memória coletiva.
Conforme bem nos instiga o francês Gaston Bachelard, para um estudo fenomenológico dos valores da intimidade do espaço interior, a casa é, evidentemente, um ser privilegiado, desde que, segundo o autor, consideremos ao mesmo tempo em sua unidade e em sua complexidade, tentando integrar todos os seus valores particulares num valor fundamental.
O lugar da casa e a natureza do lugar são substâncias ontológicas que alimentam as encantarias florestais, e nesse embelecido e brioso entrelaçamento entre o homem e a terra, é preciso concordar com Bachelard ao dizer que a casa é o nosso canto do mundo e o nosso primeiro universo.