Os cabelos da mãe-d’água-brasiviana não convivem em dissensão com as matas e com os rios da floresta amazônica. Eles estão divinalmente entranhados no colo da mãe terra, e, portanto, também estão entrelaçados na alma de suas coletividades ribeirinhas.
Os ensinamentos da mãe-d’água são de equidade, brandura, resiliência e empoderamento nas relações cotidianas e complacentes do homem com a natureza. O cabelo, o canto e a beleza exuberante são peculiaridades virtuosas que alimentam os modos de vida dos povos da floresta.
Os seus encantatórios cabelos se espalham imbricados às raízes das árvores numa imensurável demonstração de amor e proteção à volúpia inenarrável da verde mata. Os seus cabelos são generosamente protegidos pelo pai-da-mata, pelo menino-boto, pela mãe-da-seringueira, e por uma diversidade de deuses mitológicos que habitam e organizam o mundo ancestro-cosmogônico da terra mãe.
Conforme nos informa o geógrafo Eric Dardel, a terra no universo mítico, é origem. Ela é a fonte da vida, é de onde os homens saem, assim como todos os seres e os contrários que eles vigiam durante toda a sua vida, é fonte das relações e das obrigações filiais.
A mãe-d’água-brasiviana continua estetizante na sua sagrada espiritualidade de preservar o bem viver, e de mostrar àqueles que insistem em violentar as nossas almas, que nós continuamos lutando e resistindo em defesa da florestania. Aqui tem gente!
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Aqui tem gente – parte VII