A desterritorialização do lugar é um ato de aversão, ódio e beligerância que insolentemente demonstra o poder do conúbio e do embrutecimento elitista que espolia e estigmatiza as minorias étnico—raciais marginalizadas da Amazônia brasileira.
Segundo nos informa o geógrafo Edward Relph, lugar é um microcosmo onde cada um de nós se relaciona com o mundo e onde o mundo se relaciona conosco. Para Relph, o que acontece no lugar é parte de um processo em que o mundo inteiro está de alguma forma implicado. O mesmo autor nos esclarece que isso é existencial e ontológico, mas é também econômico e social, pois em toda parte estamos presos em maior ou menor grau nas forças neoliberais e da globalização.
São essas forças exacerbadas e desregradas que execra e macula de forma tacanha e tenebrosa a virtuosidade das peculiaridades estetizantes dos povos da floresta. Forças nefastas e excludentes que perniciosamente asfixia a exaltação dos sentidos, dilaceram as relações do homem com a terra, estigmatiza a memória coletiva, ceifa as encantarias florestais, extermina a substância ontológica da vida e aterroriza a exuberância cósmica do lugar.
Como bem ressalta o geógrafo e escritor Vicent Berdoulay, o lugar como sujeito reflete as relações complexas, resultantes da tensão fundamental que se exerce entre o particular e o universal, e entre o provincial e o cosmopolita. Segundo ele, o conceito de lugar, convida, efetivamente, a lançar um olhar novo sobre a questão moral, a saber, sobre o campo de exercício de pertinência da responsabilidade. Nesse sentido, Vicent Berdoulay e Nicholas Entrikin, filosofam a seguinte reflexão:
“Como sujeitos, os seres humanos constroem lugares – de pertencimento e de identidade – e, como são, também, moldados por tais lugares, eles constroem obstáculos à tendência pós-moderna e metropolitana de ver cada lugar como o resumo de todos os outros”.
Os seringueiros brasivianos do rio Mamu – Noroeste da floresta pandina boliviana – resistem como podem à violência esdrúxula e espoliadora, oriundas da malversação xenófoba e financeira dos efeitos neoliberais e dos engodos hostilizantes do embuste opróbrio da globalização. Aqui tem gente!