O indelével batelão ribeirinho é o arquétipo das águas fronteiriças. É um marcador histórico e fluvial, e está internalizando na alma das coletividades da Amazônia Sul – Ocidental brasileiro-boliviana.
O batelão não é cenário de infortúnio e infelicidade, é cenário de harmonia e embelecimento da dinamicidade fulgente das águas. O batelão é também o lugar da mulher ribeirinha, da mulher guerreira e da mulher como símbolo de empoderamento e resistência.
O batelão é a luz do cotidiano
É o navegar consciente da liberdade
O batelão é a peculiaridade
Indissociável do ente humano
O batelão é também brasiviano
Que alimenta do homem, o sentimento
O batelão se tornou pertencimento
Justamente para não ser esquecido
O batelão é tradição do mundo vivido
Pelo seu original enraizamento
É na generosidade suntuosa do batelão onde a mulher se sente feliz e segura, e mesmo nos momentos de grandes dificuldades, ela consegue superar os seus obstáculos e desafios. Certo dia uma mulher ribeirinha precisava dar à luz, e o seu marido a leva às pressas para o Hospital Regional de Extrema de Rondônia, mas na metade do percurso a mulher agoniza de dores, e o seringueiro teve que atracar o batelão no seringal mais próximo do rio Mamu. Felizmente lá havia uma parteira que ao ser informada do fato, imediatamente providenciou os materiais necessários e se dirigiu ao batelão para realizar o parto.
Às margens do rio Mamu, a água fervia numa panela de barro, enquanto a parteira, com seus imaculados saberes tradicionais, selecionava no seu quintal algumas plantas medicinais: alfavaca, algodão roxo, mutuquinha, mulata catinga, crajirú, cravo de defunto e taperebá. A mulher deu à luz, o parto aconteceu, a criança chorou, e a parteira do Mamu, feliz ela fez mais um risco no assoalho de paxiúba da sua casa, contabilizando os diversos partos que realizou com sucesso. Viva as parteiras!
Veja também:
A vida no batelão ribeirinho – parte I