Porto Velho RO – Ele já foi condecorado várias vezes. E nesta sexta-feira (1º.12), no 1º Encontro Estadual e Lançamento da Coletânea Vivências Amazônicas que será realizado das 16 horas às 20 horas, na Biblioteca Municipal pela Associação de Jornalistas e Escritoras, coordenadoria de Rondônia (AJEB/RO), José Francisco Araújo (Zequinha Araújo), presidente da Associação que leva seu nome, será agraciado como Membro Benemérito da AJEB/RO e também receberá o Troféu Boto da Amazônia, idealizado pela presidente da Associação Instituto Babaçu da Amazônia (AIBA) e da AJEB/RO Izabel Cristina da Silva, que tem o objetivo de promover empreendedores de Rondônia e do Brasil que contribuem com a sustentabilidade e o social.
Em entrevista exclusiva para o meu blog: jaquealencarjornalista.blogspot.com, conheci a história deste homenageado, e descobri a razão que levou Zequinha mais uma vez ao reconhecimento. Com brilho nos olhos, contou-me que a Associação teve início em 1988, quando ele ainda era presidente da Associação de Moradores do bairro Nova Porto Velho, atuação que o incentivou a dar continuidade à um trabalho social voltado para a comunidade através da Fundação Zequinha Araújo, oficialmente inaugurada em 1989, comemorando este ano 34 anos de existência.
Durante nossa conversa, Zequinha lembrou que quando foi criada, a Associação tinha apenas 16 metros quadrados e atendia somente os moradores do bairro. “Quando percebi, já estávamos ajudando outros bairros vizinhos, e conseguimos colocar um médico para atender a população. Dois anos depois, tínhamos três médicos, e cursos profissionalizantes”, recordou.
Política
O trabalho exemplar, prosseguiu, o impulsionou para a vida política, e o levou a ocupar uma vaga na Câmara Municipal de Vereadores conquistada à bordo de uma bicicleta Monark. Daí por diante, teve condições de investir um pouco mais na Fundação. Ficou no Legislativo Municipal por seis mandatos e chegou ao Legislativo Estadual, solidificando sua base política.
A trajetória de trabalho incansável, resultou em uma Associação que hoje atende 47 mil sócios e cerca de 500 pessoas por dia nas quatro unidades que existem hoje na capital do estado. Atualmente, continuou relatando Zequinha, 80 médicos atendem na instituição, e fora dela, 90% das Clínicas e Hospitais de Porto Velho são credenciados à ela.
“Ou seja, além das pessoas que atendemos aqui diariamente, temos uma média de outras quinhentas que são atendidas externamente. Portanto, em torno de 1.000 pessoas são atendidas por dia através da Associação”, ressaltou, complementando que os conveniados não são apenas da capital Porto Velho. “Temos convênio também no Apuí, Labrea e Humaitá, no Amazonas; no Acre, Pará, Vilhena RO e outros lugares”.
Os benefícios de ser um Associado à Fundação são inúmeros, disse, enumerando que, além dos profissionais da área da saúde, os sócios têm descontos especiais em academias, faculdades, farmácias, materiais de construção, oficinas mecânicas, postos de combustíveis, gás, pet shop´s, óticas e outros estabelecimentos conveniados à Associação Zequinha Araújo.
“Sabemos que em muitos casos os ganhos chegam até R$ 2.000,00 referentes à descontos, mas se considerarmos a média mínima de R$ 50, são em torno de R$ 50 mil/dia de economia à sociedade assistida pela Associação”, salientou.
E se você está aí pensando: ah, mas há investimento de recursos federais, estaduais ou municipais na Associação. Ledo engano. Zequinha assegura com convicção que não recebe nem R$ 1 do Poder Público. “Muito pelo contrário, pagamos é muito imposto. Mas …”, pausou ao ter a voz embargada pela emoção, continuando “tem um Deus à frente de tudo”.
A origem da história
Sua história de vida, revelou Zequinha, começou quando ele tinha entre 11 e 12 anos de idade. Na época trabalhava na roça. Em um dia de trabalho árduo no roçado, a casa da família pegou fogo. Tudo foi levado às cinzas, restou à família, apenas a roupa que estava no corpo.
“Minha mãe chorava muito. Papai, se manteve firme. Dormimos na casa do vizinho, e no dia seguinte, por volta das 5 horas da manhã todas as famílias que moravam nas proximidades se reuniram, e em posse de machado, prensado, serrote, e outros instrumentos de fazer barraco, entraram na mata e cortaram palha, esteio e até o final da tarde tínhamos uma casa pronta. Solidariamente, todos se esforçando, e quando foi 6 horas da tarde, estávamos dentro de casa. Algo que me deixou muito alegre e marcou a minha vida. E naquele dia fixei no meu pensamento: um dia faço alguma coisa por alguém”, reportou.
E ele fez muita coisa, e continua fazendo. O menino nascido no Seringal Anari, hoje município do Vale do Anari RO, filho de soldado da borracha, que já carregava influências da mãe dona Raimunda, parteira e líder comunitária, cresceu e se tornou um homem humilde, simples, sem ambição e com o propósito de cumprir sua missão.
“Nunca fui dinheirista. Nunca fiz o que faço pensando o quanto vou ganhar. Por isso digo que hoje, tenho uma missão, não um trabalho. Pelas porradas que a gente leva da vida, vai aprendendo a fazer, e espero que Deus me dê mais anos de vida e saúde para que eu possa fazer muito mais”, afirmou, acrescentando que não quer mais saber de política partidária, pois sem ela, tem mais consistência no trabalho que realiza.
Tomografia e Casa de Apoio
E a Associação segue alavancando. Em nossa conversa, Zequinha anunciou que no próximo ano, pretende oferecer tomografia computadorizada, um serviço almejado por muita gente que precisa, mas não tem condições de pagar em sua totalidade.
“É muito caro. As pessoas terminam morrendo por não ter o dinheiro suficiente para pagar. Eu sei que há condições de se fazer mais barato. Porém, muita gente pensa em lucrar com isso. Eu moro de aluguel hoje, fui deputado, vereador, e não tenho uma casa para morar, mas tenho uma Associação que atende milhares de pessoas. E isso não há dinheiro que pague”.
Além da Associação, Zequinha citou que tem uma Casa de Apoio que acolhe pessoas com café da manhã, e oferece um trabalho filantrópico compensador.
“A minha felicidade é ver as pessoas felizes. Quantas vezes pessoas chegam aqui em uma cadeira de rodas, vindas de longe, o ortopedista atende com inúmeras sessões de fisioterapias e dormem com tranqüilidade sem pagar um absurdo. E ainda volta pra casa bonito, porque passa no Salão de Cabeleireiro, faz aquele corte baratinho, do jeito que gosta. E vai embora feliz da vida. Esta é a nossa prática, e é tudo isso que move o nosso espírito. Existe uma maneira de tratar bem as pessoas, para isso, é preciso termos um sentimento solidário. Meu papel é ajudar quem precisa”, finalizou, Zequinha que pertence ao Rotary Clube Madeira Mamoré desde 2022 e apoia o Projeto Fios de Amor da instituição, ao contar sua história com 66 anos bem vividos e cheio de disposição, sensibilidade e entendimento.