Faz alguns anos que Gaga e Cooper cativaram as pessoas, interpretando a canção “Shallow”, tema do remake “Assim nasce uma estrela”. Logo na primeira frase do poema, ouvimos me diga uma coisa, menina: você está feliz com esse mundo moderno? O diálogo cantado emocionalmente pelos dois competentes intérpretes nos remete às cenas do filme: desencontros, ilusões alucinógenas, alcoolismo, desilusões, violências, fundo do poço… esperança.
Este enredo também se repete no remake de nosso cotidiano. Basta desligar a telinha e olhar ao redor. Para justificá-lo, alguém dirá que sempre houve choque de gerações, conflitos de visão de mundo, desarmonia familiar e insegurança social. Outro afirmará que se trata de batalha espiritual, limpeza da raça humana, incompetência de nossa civilização. E haverá quem sentencie que quem não for igual ao padrão tido como normal, deve ser destruído e expurgado ao fogo dos infernos.
O corpo embranquecido pelo interesse de uns poucos, na forma de um jovem musculoso, olhos azuis e cabelos loiros cacheados bailando nos ventos quentes sob o sol da Palestina do primeiro século? Corpo de um milagreiro, profeta, revolucionário que arregimentou em torno de si umas cem pessoas cuja maioria foi formada por doentes, mendigos, perseguidos e excluídos? Corpo de um Cristo, um Ungido, um Separado, um Enviado de Deus cuja missão durou três anos e encerrou-se com sua prisão, condenação e crucificação?
Respondendo ao primeiro parágrafo, nem a jovem está feliz com esse mundo moderno, nem as crianças, velhos, adultos e bebês. No século passado, a promessa de ruptura feita pelo modernismo diluiu-se. Hoje, nosso pós-modernismo se esvai nas ideias da imprecisão, hiper-realidade, e uma tal de liberdade recheada de bruto egoísmo. Basta olhar os noticiários que pululam: salas de aula viram local de chacina; velhas ideologias fazem novas guerras; políticos continuam obesos de corrupção; religiosos enfatizam o mal em vez da Paz; e genocídios se espalham nas cidades e florestas, atestando o gradual assassinato do amor.
Aqui eu respondo ao terceiro parágrafo: o Corpo de Cristo assassinado na cruz é o selo sublime usado por Deus para enviar à humanidade a eterna mensagem de que o mais importante é o Amor. Quem ama diz não às drogas, não somente ao uso, mas anteriormente diz não ao financiamento, ao plantio, à indústria, ao tráfico e a todas as terríveis consequências sociais que ela produz. Quem ama também diz não ao preconceito disfarçado de piadas e comentários que alimentam a intolerância, a destruição do outro diferente. Quem ama não maltrata, não persegue, não mata o outro nem o único planeta que temos para viver. Pois quem ama cativa pessoas e cultiva a esperança que se transforma diariamente em ações por um mundo melhor, sem precisar de um feriado para lembrar o maior exemplo de amor de todos os tempos: o Corpus Christi.