SEGUNDA-FEIRA, 29/12/2025

Em destaque

Os fatores que fazem disparar risco de apagão no Brasil

Reservatórios das regiões Sudeste e Sul estão abaixo do nível de 2001, ano do racionamento.

Publicado em 

Após sucessivos anos de poucas chuvas, os reservatórios das hidrelétricas brasileiras nas regiões Sudeste e Sul chegaram ao mês de setembro em seu pior nível histórico, abaixo mesmo do patamar de 2001, quando o país enfrentou um severo racionamento de energia.

Para especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, esse cenário torna elevado o risco de apagões (interrupções temporárias localizadas de fornecimento), ainda mais em momentos de picos de consumo, que ficam mais frequentes com a volta do calor.

Enquanto no inverno o auge do consumo de energia se concentra no início da noite, quando escurece, com a chegada da primavera a demanda fica maior também de tarde, devido ao aumento do uso de ar condicionado.

Os dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) mostram que esse fenômeno já começou a ocorrer a partir do final de agosto. Na semana passada, o consumo de energia entre 15h e 16h chegou a superar a demanda da noite nos dias 13 e 14 de setembro.

O risco de apagões é considerado alto porque o sistema já está operando no limite, com o acionamento de mais térmicas para compensar a quantidade menor de energia gerada nas hidrelétricas e uso intenso das linhas de transmissão, que permitem levar energia de regiões em que a oferta está menos apertada para outras em situação mais crítica. Dessa forma, a interrupção de abastecimento pode ocorrer tanto da geração insuficiente, como da falha em algum ponto do sistema, explica o meteorologista da Climatempo Filipe Pungirum.

"Apagões são prováveis. Hoje, estamos com pouca folga no despacho de energia, justamente por estarmos usando próximo ao máximo das linhas que temos para transmitir energia no país", ressalta.

"Então, se algum problema causar interrupção numa linha de transmissão, como não há redundância (espaço disponível em outra linha) nesse transporte de energia, consequentemente alguns apagões poderão ocorrer, principalmente nos momentos de picos de carga, em que a população consome mais energia", acrescenta.

O risco também é apontado por Ana Carla Petti, presidente da consultoria MegaWhat.

"Apesar das medidas do governo, o risco de apagão permanece para o atendimento à carga de ponta, aquele momento do dia em que a sociedade consome mais energia elétrica. Esse momento de ponta tem ocorrido na parte da tarde, por conta de temperatura, uso de ar condicionado, e vai até o início da noite, por volta de 18h. Principalmente o mercado Sudeste tem esse comportamento característico", nota ela.

"Como as termelétricas já estão praticamente todas despachadas, ou seja, tudo que tem disponível está gerando, esse atendimento de ponta deveria ser feito por uma geração hidrelétrica maior, a aí pode ser que em algum momento a gente não tenha água suficiente para poder atender essa demanda de ponta, porque os reservatórios já estão muito baixo. Existem níveis (mínimos dos reservatórios) de segurança de operação das próprias máquinas", explica.

Na noite de sábado (18), um apagão de cerca de uma hora atingiu dezenas de cidades de Minas Gerais e Rio de Janeiro, em especial na Zona da Mata e na Região dos Lagos. Segundo nota do ONS, a interrupção foi causada por uma falha em uma subestação de Furnas.

"O ONS avaliará as causas da ocorrência junto aos agentes envolvidos. Vale ressaltar que o episódio não tem relação com a crise hídrica do país", diz ainda o comunicado.

Reservatórios com 18% da capacidade no Sudeste

A crise hídrica é considerada a pior em 91 anos, segundo especialistas e o próprio Ministério de Minas e Energia. A situação é especialmente grave no Sudeste, a região que responde por 70% da energia produzida no país.

Segundo dados do ONS, o volume útil — quantidade de água que pode ser usada para geração de energia — dos reservatórios que integram o subsistema das regiões Sudeste e Centro-Oeste está em apenas 18% da sua capacidade máxima, segundo o boletim de sábado (18/09). É o pior resultado já registrado para setembro. Um ano atrás, o volume útil desse subsistema era de 32,9%, quase o dobro do atual.

Já em setembro de 2001, quando o governo teve que impor medidas drásticas de racionamento à população e a empresas para reduzir a demanda, a capacidade dos reservatórios estava em 20,7%. Naquele ano, consumidores que ultrapassassem determinado patamar de consumo de energia tinham que pagar multas, e até a iluminação pública nas ruas foi reduzida em diversos estados.

A situação também é preocupante no subsistema Sul, em que os reservatórios estão com capacidade média de 30%. Já no Nordeste e Norte o cenário é mais confortável (44% e 64,5%, respectivamente).

A expectativa é que os reservatórios devem continuar secando até novembro, quando começa a temporada de chuvas na maior parte do país.

Durante audiência pública na Câmara dos Deputados no final de junho, o diretor-geral do ONS, Luiz Carlos Ciocchi, disse que os reservatórios do subsistema Sudeste e Centro-Oeste devem chegar, em média, a 10% da sua capacidade em novembro com as medidas adotadas pelo governo para estimular a redução de consumo e usar outras fontes de energia, nível que ainda seria suficiente para as hidrelétricas seguirem operando.

Com a volta da temporada chuvosa, os reservatórios devem voltar a subir no final do ano, mas a projeção de meteorologistas é que a quantidade de chuva deve ficar novamente abaixo da média histórica, sendo insuficiente para uma recuperação satisfatória.

A mudança climática aumenta o risco de clima quente e seco. Nem todas as secas se devem às mudanças climáticas, mas ambientalistas apontam que o excesso de calor na atmosfera está tirando mais umidade da terra e piorando as secas.

A economista e professora do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (USP), Virginia Parente, explica que os reservatórios das hidrelétricas brasileiras foram projetados para aguentar alguns anos de chuvas abaixo da média. O problema, diz, é que as secas têm sido muito severas, ao mesmo tempo que o consumo de energia e água no país cresceu muito ao longo das décadas.

Diferenças em relação a 2001

Se a situação é pior que há duas décadas, por que, ao menos por enquanto, não houve um racionamento da mesma dimensão daquele ano?

Após a crise de 2001, o país adotou medidas para reduzir esse risco, como aumentar a conexão do sistema com mais linhas de transmissão. Isso permite distribuir melhor a energia de uma região que esteja com mais oferta para outra, em que a geração esteja insuficiente. Além disso, também houve aumento da oferta de outros tipos de eletricidade, com mais geração de energia térmica, solar e eólica.

Hoje, os mercados do Sudeste, Centro-Oeste e Sul, em que a situação é mais crítica, estão sendo em parte abastecidos por energia produzida no Nordeste, onde os reservatórios das hidrelétricas estão mais cheios e há também geração relevante de energia eólica.

A situação, porém, não é confortável porque, ao mesmo tempo que ampliou-se a geração e a transmissão de energia no país, também houve aumento do consumo nas últimas duas décadas, destaca Filipe Pungirum.

Governo deveria ter adotado racionamento?

O baixo nível dos reservatórios é especialmente preocupante porque as hidrelétricas representam 65% da capacidade de geração de energia do país. Por isso, o governo já adotou uma série de medidas para tentar reduzir a demanda e, ao mesmo tempo, aumentar a oferta de outras fontes geradoras — ações que alguns especialistas ainda consideram insuficientes.

Uma dessas medidas foi o aumento do uso de térmicas — como o custo delas é maior que das hidrelétricas, isso aumentou a conta de luz no país, o que acaba tendo o efeito de desestimular o consumo. Segundo o IPCA, principal índice de preços do IBGE, a conta de luz ficou em média 21% mais cara no país nos últimos 12 meses encerrados em agosto, mais que o dobro da inflação geral (9,68%).

Além disso, o Ministério de Minas e Energia também lançou a partir deste mês um programa de desconto na conta de luz para quem reduzir seu consumo, com objetivo de provocar uma redução de 15% na demanda entre setembro e dezembro.

Também foi editado um decreto em agosto com ações para os órgãos públicos federais consumirem de 10% a 20% menos energia de setembro a abril de 2022. Outra providência foi aumentar a importação de energia da Argentina e do Uruguai.

Para o engenheiro Edvaldo Santana, diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) entre 2005 e 2013, o governo deveria ter feito mais, adotando uma estratégia de racionamento a partir de julho para evitar os riscos de apagões agora. Na sua visão, isso não foi feito por temor do impacto eleitoral da medida.

"Desde que o PSDB perdeu a eleição (de 2002 para o PT) por causa do racionamento (no governo Fernando Henrique Cardoso), os governos consideram melhor o consumidor gastar mais (com energia das térmicas) do que fazer um racionamento", ressalta.

"O racionamento não sai em menos de 60 dias. Primeiro tem que planejar, depois as pessoas têm que entender (como funciona). Como a temporada seca está terminando, não faz mais sentido fazer. Agora é esperar o que vai acontecer", disse ainda.

Já a professora da USP Virginia Parente diz que o governo falha em não fazer campanhas maiores para conscientizar a população a economizar energia e luz, ou em estabelecer melhores acordos bilaterais para uso de energia dos países vizinhos. Ela discorda, porém, que deveria ter sido feito um racionamento antes.

"O racionamento tem um custo muito grande, causa sofrimento e desemprego. Se uma fábrica só vai poder gastar 80% ou 70% da energia, por exemplo, ela vai dispensar os funcionários parte dos dias e vai produzir menos, vender menos", nota ela.

"A empresa vai então negociar para reduzir o salário dos funcionários, eles vão ter menos grana pra comprar outros produtos, as outras empresas vão vender menos pra eles e o PIB do Brasil vai afundar", reforça.

Por outro lado, a professora lembra que apagões, ainda que localizados em apenas algumas partes do país, também podem causar grandes prejuízos.

"Os momentos de pico de consumo são perigosos, com maior probabilidade de ter apaguinhos de durações variadas. A gente corre esse risco e é bem grave, porque se você estiver em casa trabalhando no seu computador, a bateria aguenta um tempo. Mas, se você for uma indústria de cerâmica que precisa apagar seu forno, você estraga toda a produção do dia. Pequenos apaguinhos da indústria podem fazer grandes estragos", nota ela.

Publicidade
Publicidade
Publicidade
Publicidade
Publicidade
NEWSTV
Publicidade
NEWSTV
Publicidade
Publicidade

NEWS QUE VOCÊ VAI QUERER LER

Risco no Canal Santa Bárbara: moradores ignoram interdição em área de desmoronamento

Risco no Canal Santa Bárbara: moradores ignoram interdição em área de desmoronamento

Defesa Civil alerta para solo instável no Canal Santa Bárbara e pede que motociclistas e pedestres evitem a região do Triângulo
L
Inverno Amazônico: Prefeitura de Jaru reforça manutenção em linhas rurais

Inverno Amazônico: Prefeitura de Jaru reforça manutenção em linhas rurais

Obras incluem instalação de tubos metálicos e substituição de ponte para melhorar tráfego.
L
Credenciamento da imprensa para o Viradão do Béra segue até terça-feira (30)

Credenciamento da imprensa para o Viradão do Béra segue até terça-feira (30)

Secom orienta veículos de comunicação sobre prazos e regras para cobertura do show de Tierry no Viradão do Béra
L
Saiba como registrar ciclomotor; prazo vai até 31 de dezembro

Saiba como registrar ciclomotor; prazo vai até 31 de dezembro

Contran define registro, placa e habilitação obrigatórios a partir de janeiro.
L

AXIA Energia conquista certificação Lixo Zero Nível Ouro na UHE Santo Antônio

Certificação Lixo Zero reconhece sistema de gestão de resíduos da hidrelétrica em Porto Velho, primeira do Brasil a obter o selo.
L
Publicidade
Publicidade
ENERGISA
Publicidade

DESTAQUES NEWS

Inflação do aluguel fecha 2025 com queda de 1,05%

Inflação do aluguel fecha 2025 com queda de 1,05%

IGP-M registra baixa e indica menor pressão de custos para 2026.
L

Operação “Acerto Mortal” resulta na prisão de suspeito por homicídio em Nova Mamoré

A Polícia Civil de Rondônia prendeu um suspeito envolvido no desaparecimento e morte de um fazendeiro em Nova Mamoré, após investigações que revelaram execução por dívida financeira.
10

Em algum lugar da Amazônia – Vestido de luto

Entre perdas, desalojamento e dor coletiva, a força feminina ribeirinha resiste ao colapso causado pela desigualdade e pela violência do poder econômico, transformando luto em memória e dignidade.
L
Mega da Virada registra reta final de apostas

Mega da Virada registra reta final de apostas

Prêmio histórico de R$1 bilhão atrai apostadores.
L
Publicidade

EMPREGOS E CONCURSOS

AgSus abre processo seletivo em Rondônia com salários de R$ 5,8 mil

AgSus abre processo seletivo em Rondônia com salários de R$ 5,8 mil

Agência Brasileira de Apoio à Gestão do SUS oferece vagas de níveis médio e superior para atuação no Programa Mais Médicos em Porto Velho.
L
Processo Seletivo Simplificado da Prefeitura de Porto Velho abre vagas para professores

Processo Seletivo Simplificado da Prefeitura de Porto Velho abre vagas para professores

Processo Seletivo prevê contratação temporária de docentes para zonas urbana e rural
L
CRECI-RO lança concurso público com vagas para três municípios de Rondônia

CRECI-RO lança concurso público com vagas para três municípios de Rondônia

O Conselho Regional de Corretores de Imóveis (CRECI-RO) publicou edital de certame com oportunidades para níveis médio e superior em Porto Velho, Ji-Paraná e Vilhena, no concurso público do CRECI-RO.
L
CNU 2: FGV altera horário das bancas de candidatos negros e com deficiência

CNU 2: FGV altera horário das bancas de candidatos negros e com deficiência

Fundação Getúlio Vargas (FGV) comunicou a atualização do Cartão de Confirmação de Inscrição, com alterações de horário e turno, para convocados nos procedimentos de Caracterização da Deficiência e Confirmação Complementar à Autodeclaração de Pessoas Negras do (CNU 2025).
L
Ministério da Gestão nomeia 677 aprovados no Concurso Unificado

Ministério da Gestão nomeia 677 aprovados no Concurso Unificado

Cargos de analista, engenheiro, médico e outros estão distribuídos em seis pastas ministeriais; empossados no Concurso Público Nacional Unificado devem apresentar documentação digitalmente pelo Portal do Servidor.
L
Publicidade

POLÍTICA

Termina cirurgia de Bolsonaro para bloquear nervo do diafragma

Termina cirurgia de Bolsonaro para bloquear nervo do diafragma

Ex-presidente passa por procedimento para conter crises de soluços em Brasília.
L
Lula veta PL sobre realocação de trabalhadores da Eletrobras

Lula veta PL sobre realocação de trabalhadores da Eletrobras

Veto integral devolve projeto ao Congresso Nacional.
L
Centrão deve definir apoio eleitoral até março de 2026

Centrão deve definir apoio eleitoral até março de 2026

Centrão planeja decidir entre Lula e Flávio Bolsonaro.
L
Trama golpista prisões são mantidas após custódia

Trama golpista prisões são mantidas após custódia

Trama golpista tem prisões domiciliares confirmadas após audiências.
L
Toffoli mantém diretor do BC em acareação do Master

Toffoli mantém diretor do BC em acareação do Master

Toffoli nega recurso do BC e reforça relevância de participação.
L
Publicidade
Publicidade

POLÍCIA

Adolescente do CV é apreendido com drogas na zona Leste de Porto Velho

Adolescente do CV é apreendido com drogas na zona Leste de Porto Velho

Polícia apreende 50 porções de maconha com jovem ligado ao Comando Vermelho.
16
Acidentes em rodovias federais matam 111 pessoas no feriadão de Natal

Acidentes em rodovias federais matam 111 pessoas no feriadão de Natal

Operação da PRF registrou 1.196 acidentes entre os dias 23 e 28 de dezembro.
12
Bicicleta motorizada é encontrada abandonada em matagal em Ji-Paraná

Bicicleta motorizada é encontrada abandonada em matagal em Ji-Paraná

Veículo estava escondido em área de difícil acesso no bairro Riachuelo.
12
Ji-Paraná: PM apreende drogas e motocicleta com restrição

Ji-Paraná: PM apreende drogas e motocicleta com restrição

Ocorrência foi registrada em área isolada da zona urbana.
14
Theobroma: veículo atropela animal na RO-464

Theobroma: veículo atropela animal na RO-464

Acidente ocorreu na zona rural e não deixou vítimas humanas.
14
Publicidade

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

Librelato realiza terceiro sorteio da campanha “Estrada de Prêmios”

Librelato realiza terceiro sorteio da campanha “Estrada de Prêmios”

Consórcio Nacional Librelato amplia adesão e prepara novos sorteios para 2026
L
Governo Central registra déficit de R$ 20,2 bilhões em novembro

Governo Central registra déficit de R$ 20,2 bilhões em novembro

Resultado primário supera expectativas e evidencia alta nas despesas previdenciárias.
L
Campanha da Energisa com até 80% de desconto termina nesta terça-feira

Campanha da Energisa com até 80% de desconto termina nesta terça-feira

Última chance para quitar débitos e começar o ano sem dívidas na conta de energia.
L
Brasileiros e portuguesa entram para o Hall da Fama da São Silvestre

Brasileiros e portuguesa entram para o Hall da Fama da São Silvestre

Placas com marcas dos pés dos atletas são eternizadas na história da corrida.
L
Correios estudam abrir capital e tomam empréstimo de R$ 12 bilhões

Correios estudam abrir capital e tomam empréstimo de R$ 12 bilhões

Plano de reestruturação busca reduzir déficits e modernizar a estatal.
L
Logo News Rondônia
Visão geral da privacidade

Este site usa cookies para que possamos fornecer a melhor experiência de usuário possível. As informações de cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.