Duas sucuris gigantes tomando sol foram flagradas por um guia que acompanhava um turista em um passeio de canoa, em um rio de água cristalina, na região de Bonito, a 297 km de Campo Grande. Segundo Vilmar de Oliveira Teixeira, responsável pelas imagens, eram duas fêmeas.
Conforme relato do guia Vilmar, os animais estavam às margens do rio tomando sol, já que as temperaturas estavam abaixo do comum na região no dia do flagrante, em 27 de julho.
"Nesse tempo em que está meio frio, elas [sucuris] saem de suas tocas ou da própria água para se aquecerem. Por isso que é possível fazer flagrantes incríveis como esse", disse ele ao G1.
Vilmar estava acompanhado de um amigo que visitava a região. "Esse meu colega que fiz durante o passeio que ele escolheu aqui na região ficou encantado ao ver os animais."
Ainda de acordo com Vilmar, todas as filmagens foram feitas de uma distância segura para não perturbar as sucuris e sempre de forma a respeitar o espaço dos animais. "Meu objetivo é mostrar esse animal como forma de preservação e espero que gerações futuras possam presenciar esse bicho tão incrível da nossa natureza."
Entenda aparições de sucuris nesta época
Segundo Juliana Terra, doutora em ecologia pela Universidade de São Paulo (USP) e que também coordena um projeto voltado para as sucuris na região de Bonito, o inverno está entre os principais motivos que facilitam observar as grande cobras nesta época.
Segundo a especialista, é bastante comum o aumento da possibilidade de avistar as sucuris nesse período do ano já que as serpentes buscam manter-se aquecidas por meio da luz solar. No vídeo abaixo, relembre outra aparição de sucuri em MS:
"Não é nada atípico desse ano. Pelo contrário: é bastante comum e tem alguns motivos para isso. O principal é a temperatura. Quando chega maio ou junho, quando vamos entrando em períodos e baixas temperaturas. Sempre antes ou após uma frente fria é comum que elas utilizem as horas do dia do sol para se aquecerem, já que a água nessa época fica muito frio, especialmente durante a noite. Então é comum que elas busquem sair da água, busquem as margens dos rios ou barrancos que sempre ficam próximos dos leitos. Ali elas buscam se aquecer sob o sol."
"Não que nas outras épocas do ano elas não estejam ali. Qualquer época do ano elas estão neste local, só que a gente não consegue vê-las. São animais bastante quietos, não fazem barulho, elas são muito camufladas na água com sua coloração, enfim, é muito difícil avistá-las."
A especialista explicou que as sucuris são ectotérmicos, ou seja, animais que não produzem calor metabolicamente, e, por isso, buscam aquecimento fora da água, momento em que a maioria dos registros fotográficos são feitos.
"Répteis em geral, são animais ectotérmicos que não produzem calor metabolicamente, diferente dos mamíferos. Então elas dependem de fonte externa de calor para se aquecer. Os ditos animais de sangue frio, que é um pouco errônea essa expressão, precisam sair para pegar um sol e desenvolver sua temperatura adequada para desenvolver sua atividades", pontou a especialista em sucuris.
Uma outra explicação para as aparições é o início do período reprodutivo. "Elas já estão entrando nesse período que corre de julho a outubro, então devido a isso começa a ser possível observá-las. Pois os animais ficam mais ativos no ambiente, as fêmeas começam a procurar o local adequado para a copular e os machos vão atrás delas."
Os feromônios, hormônios liberados pelas sucuris fêmeas, que são sempre maiores, durante o processo de copulação faz com que mais machos da espécie saiam à procura do acasalamento (o que aumenta a chance de ver os répteis fora da água).
Segundo o biólogo Daniel De Granville, que também trabalha como guia em expedições para a observação desses animais no estado, o inverno é o período de acasalamento da espécie, o que torna mais fácil de avistá-las.
Juliana também corrobora a explicação sobre feromônios:
"As fêmeas acham um lugar adequado para a cópula e elas liberam feromônios. Esse feromônio atrai todos os machos da região. Então como eles estão nessa atividade, realmente aumenta a movimentação deles no ambiente e com isso a chance de poder avistá-los", disse Juliana.
“Agora começa a época delas se deslocarem, Mas é a partir de junho, setembro é a época que acontece o acasalamento. Depois elas vão entrar no período de gestação que pode durar até seis meses até parir os filhotes. Então a gente presume que lá por fevereiro ou abriu mais ou menos, é quando ela vai parir”, completou Juliana.
Juliana, que desenvolve pesquisas com as sucuris desde 2015, em Bonito, deixa claro que os avistamentos das cobras devem ser respeitosos. Ela reconhece que a aparição desperta curiosidade nas pessoas, mas frisa que o distanciamento é a principal forma de passar tranquilidade ao animal.
Para tudo ficar "ok", Juliana diz que os turistas não devem importunar as sucuris. "Os animais não oferecem risco algum, são muito tranquilos. O problema realmente é quando as pessoas querem importuná-las, temos que manter uma distância segura que tudo ficará 'ok'. Esses turistas vão para Bonito para o turismo aquático. Com muitos turistas nos rios, já teria acontecido alguns acidentes, mas nunca aconteceu. O ponto primordial é o respeito. Elas não são um monstro como as pessoas acham que são."