CANUTAMA, Sul do Amazonas – Para que tenha sua eficácia comprovada, a ‘Operação Tamoiotatá’ lançada pelo Governo do Estado, no mês passado, precisa atingir todos os acusados de botar fogo na floresta, de extração ilegal de madeira e de outros crimes ambientais na tripla divisa do Acre, Amazonas e Rondônia.
É o que atesta documento a encaminhado, nesta sexta-feira (30), às autoridades acreditadas em órgãos de controle municipais, estaduais e da União sob a responsabilidade de entidades classistas de caráter rural de âmbito agrário, ambiental e de povos tradicionais representativas sediadas nesta parte da Amazônia Brasileira.
Destaca-se, nessa ocasião, a Associação de Produtores Rurais da Comunidade da Região do Igarapé Arara (ASPROCRIA) – devidamente constituída do ponto de vista legal -, que teve três de seus ex-dirigentes assassinados e os corpos desaparecidos no entorno e dentro dos limites da ex-Fazenda Shaloom (hoje, Fazenda Rondônia) em terras da União Federal.
Segundo o documento, ‘existe um suposto consórcio mitigado por madeireiros, fazendeiros e profissionais liberais do lado rondoniense atuando ao menos três décadas e meia em invasões de terras de Canutama, do Estado e da União’. Nessas ocupações, muitas das quais reclamadas por agricultores já cadastrados pelos programas estaduais e nacionais e de reforma agrária, respectivamente.
Apesar da documentação apresentada e enviada ao INCRA regional (Manaus), inclusive com dados socioeconômicos validados pela Unidade Municipal do INCRA em Humaitá, a 200 quilômetros da Capital Porto Velho (RO), ‘a gerência local é acusada de se postar ao lado de invasores e do agronegócio madeireiro e bovino, ao menos por não ter denunciado os crimes ambientais em áreas de fazenda, assentados do Projeto de Assentamento São Francisco nem do aumento das margens de terras acima do limite de cada propriedade’, afirma o documento o documento da ASPROCRIA.
Com relação à Operação Tamoiotatá, os dirigentes da região Sul de Canutama, especificamente, irão nominar às autoridades gerenciais da Unidade do INCRA quanto a uma suposta autorização dada aos três assentados pela então chefia do órgão que morreram na ex-Fazenda Shaloom para que fizessem a homologação dos lotes e lá, ‘foram assassinados e os corpos sumidos até a presente data’.
Para que a operação lançada pelo Governo do Amazonas, com centro de monitoramento na Capital da Zona Franca de Manaus (ZFM), dê certo e atinja seus objetivos, diferentemente das operações atribuídas às Forças Armadas (Operação Ágata e Amazônia), lideranças dos rios Azul, Mucuim, Açuã, Ipixuna, Madeira e igarapés do Camarão, São João e de outros já assoreados pelo avanço da pecuária, da sojicultura e da estação ilegal de madeira, ‘também irão olvidar esforços junto às autoridades federais do Amazonas’.
Além do governador do Estado do Amazonas, Wilson Lima, o caso das mortes dos três ex-dirigentes da ASPROCRIA, das comunidades amazonenses do PA São Francisco, Rio Azul, Mucuim (quilômetros 5, 9, 11, 13, 17, 22, 30, 33, 42, 58, 100 e 114, na BR-319), Joana D’Arc e das divisas de Lábrea com os distritos de Nova Califórnia, Vista Alegre do Abunã, Extrema e Jacy-Paraná, ‘já são do conhecimento da bancada federal e de órgãos de controle, em Brasília’.
A Operação Tamiotatá, na opinião das lideranças locais, ‘pela vez primeira em toda a história da explosão de operações integradas do território amazonense deve obter um grande sucesso, desde que as forças de segurança adentrem as porteiras das fazendas, plantações de soja, eucalipto, pinho, serrarias sob as copas das árvores (tipo tico-tico e pica-pau) e campos ostentando bois considerados piratas ao longo do território amazonense’, diz ainda o documento.
Às forças de segurança amazonenses, o documento pede ainda que ‘a Polícia Civil se muna de mandados de busca e apreensão, a fim de que todos os funcionários de fazendas e madeireiras classificados como supostos seguranças (guaxebas, pistoleiros etc) ‘tenham seus antecedentes checados a partir de sua origem dos quatro cantos do País.
– Seria por trás dessas supostas funções que foragidos da Justiça nacional estariam escondendo suas verdadeiras identidades, se queixam as lideranças com familiares e amigos já assassinados no entorno de vários empreendimentos rurais na BR-319 e BR-364.
Com investimentos de R$ 9,5 milhões que devem manter as forças de segurança e fiscais do meio ambiente no Sul do Estado durante a Operação Tamoiotatá, ‘governo do Amazonas, segundo fontes civis e militares acantonados nas cidades de Apui e Humaitá, onde foram montadas duas bases de atuação que devem cobrir toda as regiões afetadas por queimadas e desmatamento ilegal, ‘pretende dar um grande baque nos ilegais que insistem em subtrair nosso território’.
Inclusive, dizimando nossos povos tradicionais, entre nativos e indígenas, arremataram.
Por outro lado, o Jornalismo do NEWSRONDÔNIA – que opera no Sul do Amazonas com a tríplice divisa com o Acre e Rondônia, além das fronteiras da Amazônia boliviana, peruana, colombiana e venezuelana – obteve, nesta sexta-feira (30), parte dos boletins informativos sobre resultados reais de multas em valores que já ultrapassariam R$ 1,2 mi.
Nesses primeiros dias da operação, serrarias foram multadas e interditadas por funcionarem, ilegalmente, em território amazonense. Houve prisões de pessoas, arrestos de madeiras armazenadas sem comprovação da origem, apreensões de armas e apetrechos usados em rinha (maus tratos a galos de briga em mãos de migrantes sulistas) e registros de infratores lavrados nas delegacias locais.
Até agora, o maior número de infrações, informou a fonte deste site de veiculação de notícias, vem ocorrendo nos municípios de Município de Apuí (que faz ligação com Mato Grosso e Pará no viés da Rodovia Transamazônica), Humaitá e deve se expandir rumo ao Sul de Canutama ainda no decorrer deste final de semana.
Na cidade de Humaitá, de acordo com lideranças locais, o maior foco de queimadas e desmatamento ilegais ocorre em áreas de proteção (APP) e Unidades de Conservação (UC) ao longo da BR-319 com a estrada que liga o município à Lábrea. Inclusive, em pontos mais afastados onde estar instalado uma unidade do 12º Comando Militar da Amazônia (CMA), em áreas cobiçadas pela especulação imobiliária do entorno do Rio Ipixuna e do distrito de Realidade.
No lado deste município, ao menos 3,5 décadas as queimadas e desmatamentos com extração ilegal de madeiras (espécies nobres de alto valor no mercado asiático, europeu, norte-americano e escandinavo) ocorrem sem, no entanto, ‘ninguém ou quase ninguém parar na cadeia’, apontavam ao Ministério Público Federal (MPF), ainda, em vida, um dos três agricultores assassinados na ex-Fazenda Shaloom, no início de 2017.
Sobre o assunto, um consultor ambiental e agrário – que terá a identidade não revelada nesta reportagem por ter sido ameaçado por um cirurgião plástico e um médico geriatra com largo histórico de terras invadidas da União no Amazonas e em Porto Velho -, ‘o que importa aos ilegais é a madeira nobre que gera riqueza imediata para compra de gado e feitura de pastos relâmpagos nas terras públicas’.
Segundo a fonte, ‘uma vez sacramentada a ocupação ilegal, falsos planos de manejos esquentados e/ou não em órgãos ambientais, sem fiscalização e impunidade à vista, a floresta é posta a baixo e os nativos, ribeirinhos e assentados do PA Arara sob a responsabilidade do NCRA do Amazonas são ameaçados e assassinados’ – como ocorreu com os trabalhadores rurais Flavio Lima de Souza, Marinalva Silva de Souza e Jairo Feitoza.