Porto Velho, RONDÔNIA – ‘Olha o trem! Alertou por décadas aos curiosos e passageiros aglomerados no entorno das giratórias e plataformas durante as manobras das locomotivas e vagões nas viagens de Porto Velho, à Vila do Abunã e a Guajará-Mirim, o velho ferroviário José Bispo de Morais, presidente reeleito da Associação dos Ferroviários da Estrada de Ferro Madeira Mamoré (ASFEMAM).
Quase esquecido nas crônicas e livros atribuídos a neo-escritores de plantão, José Bispo, ainda assim, por sua luta e coragem em liderar, ao lado de uma equipe de abnegados que não se deixa ‘entregar’ aos cantos das sereias políticas a cargos ofertados em órgãos oficiais, por força desse trabalho, tradição e história que, no dia 27, às 8h, na Biblioteca Municipal ‘Francisco Meireles’, será reconduzido a mais um mandato à frente da Associação dos Ferroviários.
Em recente entrevista sob as copas das seringueiras do Parque Circuito, Bispo de Morais, antecipava o surgimento de movimentos contrários à permanência dos ferroviários à frente da ASFEMAM no ambiente onde sempre funcionou – no prédio da Administração do Complexo Ferroviário. ‘E não nos forçando a pular de galhos e em galhos’, como vem ocorrendo após a cessão ao município, afirmou.
O velho ferroviário, em cada passo dado sobre o ‘tapete’ formado por folhas e sementes da Hevea Brasilis (seringueira da Amazônia),jogado ao chão e ao lado do pioneiro presidente do Sindicato dos Soldados da Borracha, José Romão Grande, 96, veio às lágrimas ao tornar público o tipo de tratamento dado à não conservação e preservação do Complexo e à Vila Ferroviária.
– Continuam destombando o que já está tombado e assegurado por lei federal’, afirmou.
Investido em novo mandato, a partir do próximo dia 27, entre uma fala de caráter saudosista e outras a respeito da inexistência da sede da entidade que ora preside, Bispo de Morais, garantiu ao NEWSRONDÔNIA, contudo, que “sinto falta da atuação de instituições e até de conselhos de defesa do patrimônio cultural no âmbito municipal, estadual e da União Federal em nossa luta’.
Dessas falas, a maioria de conteúdo triste – e não enfadonhas – e sem remeter os autênticos ferroviários ao patamar que lhes deferiam conferir as autoridades, na nova gestão Bispo ‘espero contar com o apoio do colegiado de integrantes do poder público ao menos no âmbito federal, começando por caminhadas entre a sociedade civil e corredores dos ministérios da Cultura, Turismo e de Infra-estrutura’.
FORA DO METIÊ NATIVO – Sem projeto técnico inscrito junto ao novo governo, o município de Porto Velho vai perdendo a chance de aderir ao Plano Nacional de Revitalização de Ferrovias, que desde os anos de 2013-16 e encapado pelo governo posterior (2016-18) tem o objetivo redistribuir as malhas existentes e gerar investimentos privados acima de R$ 1,2 bilhão nesse tipo de segmento. Além de assegurar investimentos públicos em valores a serem ainda definidos.
Em resumo, de acordo com avaliação do consultor Roberto Lemes, 47, ao NEWSRONDÔNIA, “esse plano seria uma correção de rumos no programa voltado ao segmento ainda no governo Fernando Henrique Cardoso’ e que poderia beneficiar, inclusive a reconstrução da Estrada de Ferro Madeira Mamoré (EFMM) no trecho compreendido de Porto Velho à Guajará – Mirim’.
– No mínimo, o município deveria aproveitar a ocasião para inserir o projeto defendido pelo Vice-Presidente da ASFEMAM Georges Telles (O Carioca), que protocolizou, em Brasília, pedido de tombamento de todo o trecho da EFMM , completou o Consultor.
Historicamente há controvérsias defendidas por ferroviários e agentes públicos municipais e estaduais sobre o processo de revitalização da Estrada de Ferro, a começar por denúncias levadas à Policia Federal de que ‘um porto fluvial foi desconstruído graças a intervenção da Vice-Presidência da Associação dos ferroviários na área tombada da EFMM’.
A divergência maior trata-se da adaptação por parte do município de um projeto à semelhança do adotado pela Companhia Docas do Pará, onde armazéns viraram lojas de departamentos, bares, restaurantes e mini-shoppings. Lá, a Capital Marojoara (Belém) está envolta a terminais hidroviários, diferentemente de Porto Velho, ‘eminentemente com características culturais rodo-ferroviária’, atestou Roberto Lemes Soares.