Porto Velho, RONDÔNIA – Enquanto a Suíça ostenta cerca de 600 mil pessoas consideradas pobres, num dos mais países mais ricos do mundo, a Capital rondoniense não consegue solucionar a situação de ao menos 200 indivíduos em situação de vulnerabilidade social e pessoal que perambulam pelas ruas da cidade.
É o caso do “morador anônimo” que ocupa a fachada da frente do antigo prédio onde funcionou a Escola da Magistratura deste Estado, localizado no cruzamento das avenidas Raimundo Cantuária e Jorge Teixeira, a poucos metros da Central de Flagrantes, bairro Nossa Senhora das Graças.
Devagar e devagarinho foi se achegando e montou em poucos dias um “verdadeiro sobrado” bem próximo aos vistos nos carnavais pelos casarios de Olinda, Salvador e Recife, grandes centros de atração turística cobiçado por brasileiros e estrangeiros quase todo o ano de festas e férias no Brasil.
Como ele, outros moradores de rua promovem ocupações consideradas ilegais na cidade, “ora em terras baldias particulares, ora em prédios públicos abandonados por desleixo das autoridades locais”, afirma a acadêmica do Serviço Social Francisca Souza da Silva, 56.
Segundo ela, “o poder público e político nosso de cada gestão há décadas não sabe quem são, quantos são nem de onde vieram esses indivíduos considerados invisíveis pelo Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) e diagnósticos das secretarias da Assistência Social” (SEMAS/SEAS).
Além do ocupante do antigo prédio da ex-Escola da Magistratura do Estado de Rondônia, que fez do lugar “seu porto seguro na ausência de comando social e de cidadania plena mendigos, deficientes, idosos e jovens em situação de risco social, Porto Velho ainda não sabe como reduzir os problemas dos moradores de rua”, enfatiza a senhora Souza da Silva.
Diferentemente da maioria dos mendigos que se vê perambulando pelas ruas desta Capital e, sobretudo ao largo do Terminal Rodoviário Municipal, o que ocupa o ex-prédio da Escola da Magistratura “nunca foi visto com animais ou cão de guarda”. Vive e mora sozinho no local; não admite ladrões ou usuários de drogas.
Fez da fachada do antigo prédio um verdadeiro bangalô para pobres e remediados ao longo da mais movimentada via de acesso a essa Capital dentro do perímetro urbano, a BR-319 cuja importância é considerada estratégica para garantir o escoamento da soja, carne bovina e minérios levados para a Ásia, Europa e Estados Unidos.
Enfim, a Reportagem tentou criar um ligeiro vínculo com a personagem em foco, porém, não obteve sucesso na empreitada. Balbuciando palavras entrecortadas, o mínimo conseguido foi que “estava ali com a ordem do dono, mas que ficasse do lado de fora do prédio”.
No local, vivendo e morando sozinho, lava e estende roupas num varal improvisado, além de fazer a barba, penteia o cabelo depois de um bom banho a 0800 nos banheiros do Terminal Rodoviária. Também não incomoda ninguém para implorar por dinheiro, cigarro ou comida às pessoas que transitam, obrigatoriamente, pelas calçadas descalças ao longo da Avenida Jorge Teixeira.
Enquanto isso, as promessas atribuídas a frágeis gestores de que “estariam empenhados na solução dos problemas dos moradores de rua, só arrefecem o caos que se tornou a cidade com tantos imigrantes e migrantes perambulando na área comercial”, se queixa parte da rede hoteleira do eixo da Rua D. Pedro II e Avenida Carlos Gomes.