Antes de qualquer coisa explico-me pelo que o leitor já notou no título, a crônica foi sim escrita em janeiro, depois de alguns dias do natal sim. O que ocorre é que me foi encomendada uma crônica natalina, pediram-me para não poupar beleza, inspiração e a alegria própria dessa linda data festiva. Bem, para honrar o ofício de cronista – ainda que diletante no meu caso -, e honrar os que muito viveram dessa nobre arte, propus-me a escrever apenas fruto de minhas observações. Ora o cronista é o fotógrafo da vida cotidiana, o Van Gogh de um momento nulo, mas que a seus olhos e palavras são imortalizados no papel. Observei atentamente tudo o que pude e passo-lhes com a fidelidade que posso.
O Natal é mesmo lindo, é incrível como o nascimento de Jesus influencie tão ricamente os dias de hoje (aliás, os meses de dezembro de hoje). É claro que Jesus não nasceu no dia 25 de dezembro, mas em algum dia entre agosto e setembro; sejamos francos, o nascimento de Jesus parece cada vez menos crível entre os jovens. Mas que importa? Nenhum teólogo chato irá quebrar a magia do bom velhinho a distribuir brinquedos num trenó puxados por uma espécie nórdica de veados!
As reuniões de família são um momento especial e único. A familiares que não fazemos nenhuma questão de ver durante o ano todo desejamos um ardente e caloroso Feliz Natal num abraço forte e estranho. Devo confessar que não entendo a necessidade de três coisas nessas reuniões: Som alto com músicas de péssima qualidade; bebidas alcoólicas em desproporcionais quantidades; comida, muita comida que resultam em virtuosa gula e santo desperdício – não podemos dizer que é pecado, a comemoração é do nascimento do Deus encarnado!
Você já experimentou comprar coisas das quais nunca precisou e que jamais nos será útil, apenas por estar contagiado pela magia da festividade natalina? É surreal! Na TV os comerciais também entram no clima anunciando natalinamente qualquer coisa, de viagens a preservativos; os programas não ficam para trás, shows especiais, auditórios em vermelho em branco com neve e até lutadores de MMA com a tradicional touquinha do bom velhinho da Groelândia. Não há quem fique imune à emoção.
Agora assunto sério: jamais, em hipótese alguma, podemos cometer o sacrilégio de esquecermos dos menos favorecidos. Soube até que deram-lhes um nome bonito: Socialmente vulnerável. Não são mais pobres ou miseráveis; aliás, dizem agora que pobre é o diabo (com d minúsculo), e vá de reto! O nascimento é de Jesus. Voltemos, eu falava dos pobr… digo, menos favorecidos: O Natal é uma oportunidade maravilhosa de mostrarmos toda a nossa cristandade – é o nascimento do nosso Cristo – em benévola generosidade confeccionamos cestas básicas apetitosas, nas nossas igrejas isso acontece em escala comunitária, o próprio Deus deve se orgulhar muito de sermos seus filhos, de tão generosos que somos nessa época! A cesta será um “socorro bem presente no tempo da angústia”. É um pouco inconveniente que essa angústia dure o ano todo e que não seja apenas de comida, mas não podemos resolver todos os problemas do mundo não é mesmo? Sendo o Natal providencialmente em dezembro, começamos o ano novo de alma leve e renovada, “um menino se nos deu” e demos cestas básicas (até panetone teve). Não há pecado ou carma que resista a tantas graças.
Celebremos pois irmãos meus, celebremos o menino na manjedoura, o Jesus, o Deus encarnado, o Salvador, o Príncipe da Paz, o Deus Forte, o Justo pois ainda que ignoremos que há sobre nós uma sentença de morte pelos nossos pecados, Ele nasceu em nosso mundo para que possamos nascer no mundo Dele.
Jefrson Sartori
Janeiro, 2019